quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Cidades inteligentes e (des) humanas


CIDADES INTELIGENTES E (DES) HUMANAS

  Embora tenhamos a nítida sensação de que o mundo não vai bem, de vez em quando, até para anestesiar um pouco dessa angústia, geralmente através de jogo de palavras que formam uma combinação bem digerível, disseminam-se novos conceitos que antes mesmo de serem compreendidos, se tornam assimilados e desejados, haja vista o viés de modernização imposto para a afirmação de uma sociedade “incansavelmente inovadora”, fundamental à consolidação de um padrão global de consumo “sem raízes”, isto é, onde o conceito de novo está sempre defasado ante à sua própria efemeridade e descartabilidade. 

  Carregando consigo uma sucessiva série dessas “incansáveis transformações”, “para o bem da humanidade”, chegamos, atualmente, a esse portentoso chavão, que é o desejo de todo ser humano, porém, cuja efetividade, à mínima análise, desafia o senso crítico, como nos propomos a refletir, ainda que com a exata noção das dificuldades em confrontar o que, pomposamente, se convencionou denominar: “CIDADES INTELIGENTES E HUMANAS”!

  Conforme motivei, seria ridiculamente estúpido em divergir de uma “cidade inteligente e humana”, fazendo questão de ressaltar, por isso mesmo, que ouso discordar é dessa massificação de termos refinados para “vender belos rótulos de produtos sutilmente enganosos”, torcendo para que você se sinta encorajado a me conceder mais um pouco do seu precioso tempo, com a sequência desta leitura, nem que seja para tentar entender porque alguém se propõe a também dispensar importante parte do seu, para elaborar reflexões desta natureza.

  A modernidade não precisa de discursos, sendo fácil o embevecimento e a adesão massificadores, formando um casamento perfeito com a “evolução”, ainda que os filhos por si gerados estejam crescentemente a descoberto quanto ao mínimo necessário à formação de um ambiente saudável para se viver, contrariamente ao que costumam sugerir a conjugação de termos que usualmente entorpecem o senso comum.

  Pode-se partir da premissa de que tais expressões não têm a pretensão de indicar a realidade em que vivemos, mas a que se tem por objetivo, o que, de qualquer forma, não se coaduna com o modo como se dá a sua disseminação, produzindo uma gama de efeitos, objetivamente, desde o seu início – e aqui está o fundamental - com enorme discrepância entre a afirmação da “cidade inteligente” e da “cidade humana”.

  Eis, então, um grande perigo, pois, uma “cidade humana”, por si mesma, já estará lastreada em algum tipo de inteligência, mesmo a mais primitiva, por se basear em vínculos seguros à condução daquele “aglomerado humano” através dos tempos, enquanto a “cidade inteligente” (a rigor, mais “Intel” e “iGente”) não necessariamente guarda sintonia com uma “cidade humana” (talvez uma cidade #umana) ensejando, dessa forma, extrema cautela ao se avalizar uma coisa pela outra, sem um mínimo de necessárias garantias.

 É nesse contexto que nos encontramos ardorosamente “obcercados” (cercados, obcecados e observados) por todos os lados pelos artefatos que criamos para vivermos, nos rel@cionando, pseudamente, seguros e empoderados, a cliques velozes de distância uns dos outros e de nós mesmos.

  Mais do que a própria família ou um teto, o importante é que todos, do nascer ao morrer - se possível antes e após essas etapas também - estejam digitalmente incluídos, ainda que tenham como única perspectiva de moradia os seus “endereços eletrônicos” no relento do mais humilde dos becos[1], contudo, enquanto “cidadãos do mundo”, virtualmente conectados, por um fio (em breve também sem necessidade dele, pois todos disporão de tecnologia wirelles, como o wi fi) às mais excitantes realidades do mundo. 

  Estando todos interligados pela “inteligência”, não há possibilidade de ir contra, afirmando-se o que se pode considerar uma “sociedade chipada”, o que corresponde, em outras palavras, a uma “sociedade ch@pada”!

  Logo, embora a realidade seja absolutamente destoante, o mundo virtual é o que se afirma como o existente, superpondo-se ao verdadeiro através de poderosas lentes que alteram a qualidade da imagem, “photoshopada”, automaticamente, pelas câmeras impregnadas nas mentes “downloadadas”, em substituição a versões originais das memórias, uma vez submetidas a minuciosas análises laboratoriais, após “recall”, devido às inúmeras imperfeições detectadas como transmitidas e adquiridas no ato do rústico contato da placa-mãe com a placa-pai (a propósito, padrão que a evolução também vem cuidando em constantemente avaliar, inclusive no que tange à “qualidade” dos “produtos” decorrentes desse contato).

  Para a afirmação de uma “cidade inteligente”, evidentemente, faz-se necessária uma população “inteligente”, não é mesmo? Ora, com toda a evolução do parque tecnológico mundial, tornou-se extremamente conveniente e rentável produzir e disseminar a “inteligência artificial”, enquanto, naturalmente, a inteligência humana sofre interferência de vários fatores pessoais e extrapessoais, além de jamais se identificar com a ideia de que seja tal qual um “produto em série”.

  No pacote de “modernidade global” em que fundamentalmente estão inseridas as “cidades inteligentes”, embora a fácil (e frágil para quem se der a exercício de senso crítico) disseminação de que busca a “inclusão de todos”, na verdade, a ideia quanto aos que não conseguem (não os que opõem resistência, vistos apenas como um “perigo”) alcançar o “padrão de inteligência” que lhe permita “ser útil”, é de que são uma espécie de “refugo”[2], termo muito bem explorado em “Vides Desperdiçadas”, por Zygmunt Bauman, para quem, aliás, paradoxalmente, “a expansão global da forma de vida moderna liberou e pôs em movimento quantidades enormes e crescentes de seres humanos destituídos de formas e meios de sobrevivência”. 

  Não obstante, como as “cidades inteligentes” carecem – cada vez mais, evidentemente – de produtos e serviços, ou seja, a base fundamental para a sua afirmação, o mercado cuida em proporcioná-los de forma tão avançadamente avassaladora que se torna quase impossível resistir à sua constante imposição inovativa.

  Ou seja, a margem de liberdade para o administrador público ousar fora do campo que lhe é imposto é quase nula. Aliás, por ele, diuturnamente, agirá o insaciável mercado, readequando, substituindo ou obsoletizando, rapidamente, quaisquer tipos de novidades que de um dia para outro deixarão de ser para dar lugar a outra, “mais aprimorada”.

  A propósito, como o campo é extremamente fértil e o mercado rentável, diria que as transformações na sociedade passam a ser muito mais determinadas pelo que possa surgir dos interesses de uma só grande empresa do que propriamente pela determinação do poder público, em qualquer dos seus âmbitos, daí, inclusive, a forma tresloucada como o mundo se lança à produção de “inovações disruptivas”, ou mesmo às “inclusões digitais”, escamoteando as chagas pelo vácuo deixado cada vez mais no tocante às “inclusões fundamentais” ao ser humano.

  Não à toa, mudando completamente o cenário de outras épocas, as empresas mais valiosas do mundo, passam a ser as que dominam o cada vez mais “inteligente” campo tecnológico, como Google, Apple, Microsoft e Ibm, as quatro entre as quatro primeiras, dentre várias outras, também em expressivas posições, logo abaixo. 

   Com o domínio de tamanha “inteligência”, obviamente, o alcance da massa globalizada se torna exercício capaz de fomentar, incrivelmente, em plena época de gigantesca crise econômica, imensas filas em busca da infinita sequência de gerações de um produto, cujo auge de popularidade não costuma durar sequer o espaço de uma gestação, a fim de dar lugar a outro “mais atualizado”, contribuindo, decisivamente, para incrementar a cada vez mais preocupante geração de lixo eletrônico, a par de manter o ciclo de  satisfação do insaciável desejo em inovações, base para a manutenção ou elevação do “status” alcançado.

 É nesse contexto que, da noite para o dia, é possível inusitar, globalmente, comportamentos humanos, como se viu, recentemente, com a “febre” provocada por uma absolutamente incomum “caçada a pokemon’s”, registrando, atualmente, os termômetros, que a situação recrudesceu, embora, evidentemente, o “vírus” tenha sido incumbado na sociedade, sendo bastante provável que uma forma mais avançada dele ou de outros estejam próximos de provocarem nova epidemia mundial. 
 
  Não obstante, naquilo que efetivamente importa, a “inteligência” não se propõe a globalizar ou aproximar, já que seu molde, lastreado, basicamente, nos mais rígidos princípios econômicos[3] dificilmente possibilita enxergar que, em algum momento, cada vez mais próximo, será absolutamente inócuo continuar a oferecer dois ao preço de um para quem não precisa de nenhum, mas sim alcançar a imensa e crescente massa daqueles que necessitam de dois, aceitam um, mas não tem para nenhum...

  Nessa seara, como não poderia ser diferente, chegamos a ponto da “inteligência” confrontar e sobrepujar, esmagadoramente, as ocupações humanas, de forma que a chamada “4ª Revolução Industrial” (“carinhosamente”, também alcunhada de “indústria 4.0”), tema mais recente do Fórum Econômico Mundial, ter projetado, como fruto das inovações tecnológicas, a criação de dois milhões de empregos nos próximos cinco anos, frente à diminuição de sete virgula um milhões, a resultar no impressionante déficit de cinco virgula um milhões, não obstante costumeiras divagações sobre o humanamente inaceitável, pois não há como maquiar a tirania dos números. 

  Enquanto isso, mesmo diante do claro e desigual “cenário de guerra” pela ocupação dos espaços, os líderes públicos são embevecidos, arrastados, coonestados a aceitarem e, mais que isso, promoverem em tal sentido, tanto que, atualmente, pouca diferença faz quem quer que seja o administrador, dificilmente escapando do “vazio” frente ao que a “superior inteligência” lhe subordina, restando-lhe o lugar comum em assimilar e incrementar o reino das engenhocas a diuturnamente “nos aprumar”, dos quais a infestação de câmeras de videomonitoramento, radares e parquímetros são alguns exemplos. 

  Não se nega que em meio a tudo isso, mediante a gama de produtos voltados para uma efetiva “cidade inteligente”, existem vários aspectos a contrabalançar a visão ora esposada. A questão, obviamente, diz respeito aos interesses que movem cada passo em direção a um mundo onde o aspecto econômico sobrepuja, demasiadamente, qualquer outro, daí decorrendo o fenomenal avanço no campo da “inteligência”, cuja expansão, infelizmente, se mostra muito mais pela necessidade de ampliar mercados do que propriamente à formação de uma cidade “mais humana”.

  Com efeito, a “cidade inteligente”, desprovida de sentimentos, é apenas a consolidação da invasão de produtos “inteligentes”, em todos os âmbitos da vida, convidando-nos, sutilmente, a nos depreciarmos frente à grande capacidade de nossas fabricações em atender-nos em necessidades, de forma bem mais “adequada” que os nossos “descartáveis” semelhantes. 

  Enfim, sob sugestivo rótulo de “soluções inteligentes”, as relações do dia a dia, gradativamente, vão sendo preenchidas por máquinas, diminuindo-se, quando não afastando, sistematicamente, o fator humano, que, inclusive, a título de facilitação de sua missão, vê confrontada suas próprias habilidades e capacidades, desambientando-se a pensar perante tecnologia de ponta que o acomoda a seguir o manual. 

  E como aventa-se, a propósito, que no futuro as máquinas serão quase tão #umanas quanto nós, parece que se a recíproca não for verdadeira, nos tornando tão p@recidos com elas, perderemos, definitivamente, a concorrência! 

  Em contextos como esse é muito sintomático, por exemplo, frases como a da nossa outrora Presidente (ou Presidenta, como gostava) quando, em visita aos Estados Unidos, na sede de uma portentosa empresa, no Vale do Silício, Estado da Califórnia, ao descer de um carro que dirige sozinho: “- acabei de descer do futuro”. Asseverando mais: “É um nível de desenvolvimento que eu não imaginei que houvesse”. [4]

  Ou, apenas para reiterar esse “lugar quase comum” dos agentes políticos, a exposição do Presidente dos Estados Unidos, ao assinar editorial defendendo a evolução dos carros que não precisam de motorista, mediante verdadeira “peróla”, no que tange a nós, seres humanos, tão “rudimentares” em quesitos como “erros” e “decisões”, mas que a “inteligência” auxiliará a “suprir”, desalojando-nos de nós mesmos: “- Atualmente, muitas pessoas morrem no trânsito - 35.200 apenas no último ano – com 94% sendo consequência de erro ou decisões humanas. Veículos automáticos têm o potencial de salvar milhares de vidas a cada ano”.[5].  A propósito, Presidente também erra!   E muito!  Logo,...

  Da forma como se “produz e se consome” inteligência, no mundo, atualmente, fica até difícil imaginar que antes da “era touch screen” a humanidade a tinha com o principal objetivo de “conhecer, compreender e aprender”, como ainda ensinam os velhos dicionários, até que sejam alterados no tocante à sua principal finalidade, qual seja: vender e aguçar avassaladoramente o comprar! 


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[1] como diz Antônio Maria Baggio: “a igualdade no supérfluo esconde a desigualdade no essencial 

[2] “Sempre há um número demasiado deles. “Eles” são os sujeitos dos quais devia haver menos – ou melhor ainda, nenhum. E nunca há um número suficiente de nós. “Nós” são as pessoas das quais devia haver mais” 

[3] (e que, cedo ou tarde, por mais sólida que seja, acabará lhe mostrando a “igonorância” de um mundo a tanto oscilar) 


[5] A Tribuna, Seção “Sobre Rodas”, Vitória-ES, 22.09.2016, p. 12,

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Henriquieto



HENRIQUIETO

  Em plena efervescência do “pensamento único”, tão cultuado pelo mundo globalizado e suas imposições nada despretensiosas, inclusive no que diz respeito à padronização do ser humano enquanto produto mais digerível ao mercado, vale a pena destacar, desnecessariamente para qualquer um que o conhece, que o Henrique Geaquinto Herkenhoff é daqueles caras realmente únicos...

  Para os que não o conhecem, basta exemplificar que embora cargos ardorosamente almejados pela quase totalidade dos profissionais de direito, ele FOI, dentre outros: Procurador e Professor da UFES, Procurador da República e Desembargador Federal. Aliás, também exerceu cargo em alto escalão do governo: Secretário de Estado da Segurança Pública. 

  Hoje, ao que tenho conhecimento, exerce a advocacia e leciona na Universidade de Vila Velha. Porém, como se trata do Henriquieto,... 

  Mas não é só por isso que ele é um desses caras realmente únicos! Contudo, entendo ser o que basta para seguir adiante, ao que realmente leva a estas linhas.

  O fato é que recebi convite para o lançamento de seu novo livro, obra da “Coleção Centenário”: “CLÓVIS BEVILAQUA e o Centenário do Código Civil de 1916”.

  Confesso que o aperitivo proporcionado pelo título não me apeteceu... E, embora se tratando do Henrique, dificilmente me cativaria a dedicar tempo à leitura, salvo se daqueles escritos em letras bem grandes, em poucas páginas, recheadas de imagens,...

  Entretanto, também já escrevi e realizei lançamento de livros. E, embora o tenha como alguém “fora da curva”, como ilustrei acima, tenho certeza da importância que confere ao ato, independentemente da aceitação que tenha ou não, posteriormente, pois aquele momento em que o livro nasce e é apresentado ao mundo, é realmente único!

   A questão é que se trata de uma sexta-feira! À noite! E, no meu caso, o que é mais grave: tenho que atravessar a “terceira ponte”! Para quem a utiliza, ainda mais no “horário de pico”, sabe bem ao que estou me referindo. E, no meu caso, pode acrescentar muito mais, já que, nesse quesito, com relação ao nível de aversão, me considero “desses caras realmente únicos” ou um “fora da curva”,... 

  Tanto que só decidi “aos quarenta e cinco do segundo tempo”, às 18:20, quando cheguei em casa, vindo do trabalho, na Serra. Mesmo assim, teria que me dirigir ao local do evento, em Vila Velha, e de lá sair até às 20:00, para outro compromisso inadiável às 20:30.

   Até tentei, ao máximo, que amigos em comum, o Paulo e o Jefferson, fossem comigo. Porém, o primeiro lecionaria naquela noite a partir das 18:30. O segundo, confirmou que compareceria, porém, às 20:30, já que não poderia ir antes. Pois é, como gosto de refletir, a propósito das bifurcações apresentadas pelo destino: se o local em que você mais encontra conhecidos de um passado distante é em velório ou na seção eleitoral, o que, para muitos, inclusive, representa a mesma coisa, isso significa que vocês precisam reservar mais tempo para se reunirem.

   E é certo que para velório (quase) todo mundo encontra tempo, não é mesmo!?

   Enfim, eu fui! E foi ótimo! Como cheguei um pouco antes do início do evento programado, além de adquirir o livro (gratuitamente, diga-se de passagem) tivemos oportunidade de henriquecedor diálogo. Aliás, inclusive também revi e dialoguei com a Professora Adriana Pereira Campos, a quem sequer avistava, no que tange a mim, a pelo menos um casamento e seis filhos atrás. 

  Por fim, no meio de costumeiras piadas sem um pingo de graça de miinha parte e do Henrique, não pude deixar de lançar-lhe a fatura no sentido de que o fato de revê-lo, diante das circunstâncias, dispensava-me da ida em futuro velório do mesmo, sendo imediatamente retrucado, óbvia, instintiva e defensivamente, que não haveria razão para tal preocupação, porque eu iria primeiro!...

   Como o diálogo terminou assim, sem analisarmos e sopesarmos as reais perspectivas (ou consultarmos as seguradoras, que certamente já tem uma previsão a esse respeito, dentro de sua margem de erro, “um pouco para mais ou para menos”) no fundo, é em razão de situações como essa que gosto muito de escrever. Termina do jeito que eu quero, sem direito a contraditório e ampla defesa.

   Pois é, Henrique! Por essa e por outras é que vale muito a pena estar, fazer e se sentir vivo,...

   Isto enquanto a Coleção Centenário não imortaliza!  

sábado, 19 de novembro de 2016

Nada do que foi será




NADA DO QUE FOI SERÁ

  Existem coisas que só acontecem com o Botafogo... E com a Laís (tá bom, com outros também)!

  Ela é assim: próximo de uma competição, todo cuidado é pouco, já que não raramente o “script” está planejado de uma forma, porém,...

  O ano era 2014, mês de outubro, época do importante torneio sudeste de natação, no Rio de Janeiro, quando, então com 9 anos de idade, iria iniciar a sua participação nesse tipo de evento, na condição de “Mirim I”, representando o Clube de Natação e Regatas Álvares Cabral. 

  Poucos dias antes, como é dada a certas estripulias, próprias de uma criança alegre e bastante ativa, pulando de uma cama para outra, no seu quarto, tendo calculado mal a distância... Pobre joelho! A pequena “cratera” que se abriu, pouco abaixo da rótula, deixando escorrer aquele filete de líquido vermelho não era nada preocupante para o futuro da atleta, contudo, para aquele evento próximo:...

  Mas, no fim, deu tudo certo: e com duas “suadas” medalhas de prata!

  O ano, agora, era 2015, o mês, igualmente, outubro: duas semanas antes do sudeste de natação (ocorre duas vezes ao ano, revezando-se entre os Estados de Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo e Rio de Janeiro), desta vez em nosso Espírito Santo (amém!), a Laís participara de um dos mais importantes eventos de corrida de rua do país, seguramente o maior do nosso Estado, a Corrida Garotada.

 Dedicada e bastante versátil, então com 10 anos, tinha possibilidades de alcançar uma boa posição na categoria 10-11 anos. E foi o que conseguiu: o 3º lugar!

 Ocorre que além da premiação respectiva, trouxe (novamente) um dos joelhos “danificado”, com um filete do líquido vermelho um pouco mais evidenciado do que na circunstância do ano anterior, já que, no tumulto inicial, fora empurrada por alguém, vindo a cair.

  O fato realmente marcante é que a queda não a impediu de “se levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima”, como relatei no tocante à sua posição, no final da corrida.

 E o tempo até o evento da natação foi exatamente o necessário para que pudesse participar, brilhantemente, do mesmo, inclusive alcançando medalhas  individuais e coletivas, estas inerentes à grande equipe de revezamento (Anna Lúcya, Beatriz, Laís e Tyara), então na condição de “Mirim II”.

  2014, 2015,... E 2016? Outubro, felizmente, passou, o sudeste de natação, também, novamente no Rio de Janeiro. A participação, na condição de petiz I, foi muito boa e, detalhe, não foi precedida dos “sustos” dos anos anteriores, apesar das estripulias e da corrida garotada, onde, aliás, alcançou o 1º lugar na categoria 10-11 anos.

  Estamos em novembro, dia 19, o evento, hoje, é o IV Festival FAC Mirim e Petiz de Natação, no Clube Álvares Cabral. Trata-se do último compromisso oficial do ano. E, seja qual for o evento, a Laís está sempre motivada a boas participações. O grande propósito era o tempo a ser alcançado nos 50 metros livre...

  Desta vez era, pois vai ficar para o ano que vem...

  Não! Não foi nada com o joelho. E, diferentemente das outras situações, não há tempo para nada... É hoje! Estava tudo rigidamente preparado para sairmos às 7:15, aquecimento às 7:30, primeira das quatro provas individuais e dois revezamentos às 8:30,...

 Como de costume, acordei-a às 6:00, levei-a, como gosta, para o quarto onde permaneceria deitada ao lado da mãe até por volta de 6:20... Tudo normal. Às 6:30 desceu a Laís para o lanche matinal (não vou falar café, pois não faz parte) e disse estar sentindo um incômodo na garganta. E era visível uma pequena elevação: no exato momento tive a certeza de que naquele dia seria impossível. Não hesitou a mãe, do alto de sua experiência “honoris causa”, adquirida no trato com os seis filhos: caxumba!

 Imediatamente avisamos aos treinadores Marcos e “Paulista” (promoveremos uma retificação de registro para “Capixaba”). Fomos eu e a Laís ao médico. Por meríssima possibilidade, colocamos os equipamentos da Laís no carro...

  Foi atendida. O diagnóstico só sairia por volta das 10 h, com o resultado do exame de sangue. No momento era 8. Porém, estava clinicamente VETADA!

  Nesse espaço de tempo, como tudo, felizmente, é perto, em nossa querida Vitória, fomos até o Clube. Ela, obviamente, permaneceu no carro enquanto fui falar, pessoalmente, com os técnicos. Retornamos para casa e devido somente à pequena oscilação na quantidade de linfócitos, tivemos um resultado ainda não tão preciso a respeito da caxumba, porém, no que realmente importa, é isso: ela está “DE MOLHO”!

 Há alguns anos, mais precisamente em 2008, quando eu e esposa tivemos a não planejada notícia da gravidez do “quinto filho”, a Liz (a Laís é a quarta), no livro que a situação inspirou, escrevi, no que diz respeito àquele “relaxamento consciente”, fruto de refletida “margem de oportunidade que oferecemos ao destino”: 

“Mesmo que, evidentemente, não estejamos imunes aos medos próprios a tal   decisão, ainda mais em tema tão especial como este, ganhamos,ademais, condição de melhor nos   adequarmos às tantas situações que planejamos minuciosamente para a nossa vida, mas que, por razões que não comandamos, acontecem de forma muito diferente da nossa vontade”.

  Evidente que o fato ora vivenciado é algo muito pequeno! Mas, especialmente para mim, que oriento e participo muito ativamente da vida esportiva dos filhos, é algo que entra nessa... Aliás, como o livro que mencionei acima, este texto já é algo que só existe porque Deus permitiu que hoje fosse diferente! Então, quem sou eu para não procurar fazer o melhor da situação?...

  A propósito, registro que a Laís está bem, embora, “momentaneamente”, tendo apenas como companhia mais próxima a boneca “caxumbira”. E, logo que teve ciência de que estas poucas linhas de sua vida, hoje cedo, seriam escritas de forma diferente, fez apenas duas “doces” considerações a respeito da situação: vou perder o meu “amigo choco”? (não vai estar lá, mas vamos providenciar a entrega e, claro, o recebimento das guloseimas); duas: e como vai ficar o revezamento? 

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Corrida da aposentadoria


CORRIDA DA APOSENTADORIA

  Transformemos os quilômetros em anos e nos situaremos em qual fase da corrida da aposentadoria nos encontramos, para melhor noção de quanto chão nos falta visando cruzar a linha de chegada e, oxalá, alcançar o direito à premiação respectiva.

  Mesmo que você não seja adepto das corridas de rua, tratando-se de atividade voluntária, repare que as distâncias menores, entre 5 e 10 quilômetros, atraem muito mais atletas, diminuindo-se, gradativamente, conforme vai aumentando a quilometragem, passando pela meia maratona (21.097,5 metros), maratona (42.195 metros), até as ultramaratonas, cuja metragem inicial alta e sem limite máximo definido, tem tudo para agradar os organizadores da corrida da aposentadoria.

  Está bem, o trabalho não é voluntário, como bem resume Gonzaguinha: “um homem se humilha se castram seu sonho, seu sonho é sua vida e vida é trabalho”!

  Porém, é inegável que a “organização” não pode deixar de levar em consideração que o sucesso da corrida depende, essencialmente, de quantidade e envolvimento dos “atletas”, não se bastando, obviamente, necessária rigidez no regulamento para que os objetivos sejam alcançados.

  Imagine, por exemplo, que alguém tenha percorrido cerca de 35 km de uma maratona, acreditando faltar-lhe 7k195m, quando é avisado, por meio de um megafone, que a linha de chegada ficou 10, 15 ou sei lá quantos quilômetros mais adiante! Engano acreditar que esse “atleta”, via de regra, completará sua nova jornada como se nada houvesse ocorrido!

 Da mesma forma, imagine-se que alguém está iniciando já não a maratona, mas, atualmente, a sua ultramaratona! E ciente de que as regras que hoje existem não serão necessariamente cumpridas, pois principalmente os quilômetros podem aumentar, novamente, em qualquer instante. É incontestável dedução no sentido de que o desenvolvimento da corrida tende a piorar, daí a organização não poder, simplesmente, endurecer ainda mais o regulamento, mas, de alguma maneira, trazer um mínimo de estímulo.

  Parece razoável, por exemplo, que alguém prestes a se aposentar, alcance, antes, direito à diminuição gradativa de sua carga de trabalho, o que, além de introduzir à ruptura, influi positivamente, também, para quem está longe da linha de chegada, porém, mais perto desta escala, que não deixa de ser agradável conquista.

  Leve-se em consideração, ademais, que acentuar rígidas e severas condições para quem já se encontra no sistema, grande parte tendo aderido há anos, ainda adolescente ou jovem, pode ser tarefa menos árdua, contudo, além de elevar grau de insatisfação, não alcança os milhões de potenciais contribuintes que se encontram ou migrem para a informalidade ou, pior, estejam situados na leva de “nem-nem” (nem estudam e nem trabalham) adultos, fenômeno que vem crescendo vertiginosamente em nosso meio.

  Por fim, continuando a meramente ilustrar que impor carga rigidamente excessiva a quem já se encontra na “corrida” é algo muito superficial para problema bem mais dinâmico, vale a pena aventar que, hoje, mais de um milhão de idosos acima de 65 anos, não aposentados, recebem benefício assistencial de um salário mínimo, mensalmente, com o qual, inclusive, grande parte deles, mantém todo seu núcleo familiar...

 Logo, não é relegar esse e outros fundamentais e indispensáveis mínimos existenciais, porém, mirar políticas públicas que não transformem cada vez mais a aspiração à aposentadoria em verdadeira “corrida maluca”.



domingo, 23 de outubro de 2016

A porta do sonho de Débora


A porta do sonho de DÉBORA*


Era uma vez uma garotinha que se chamava Débora e morava num lugarzinho pequeno e tinha um grande sonho. Ela sonhava em ser médica. Todos daquele lugar sabiam que seria muito difícil para ela realizar esse sonho, mas mesmo assim disseram a ela o que deveria fazer.

Ela deveria trilhar um longo caminho até chegar diante de uma enorme porta. Se conseguisse passar por essa porta o seu sonho se realizaria.

Débora não pensou duas vezes e sua família também. Todos resolveram acompanhá-la por esse longo caminho.

No início do caminho, todos estavam muito animados; riam, contavam historias, paravam para descansar...

Com o passar dos dias, o caminho foi ficando difícil, árido, sem graça, empoeirado e cansativo, e nada de Débora e sua família avistarem a porta.

Até pensaram em voltar, mas já haviam caminhado por muito tempo, tanto que nem se deram conta. E quanto mais caminhavam, mais o caminho ia se tornando difícil, cheio de pedras, espinhoso. O papai e mamãe de Débora seguravam em sua mão o tempo todo e sofriam quietinhos com medo de não encontrarem a tal porta dos sonhos. Rezaram, cantaram, choravam, mas estavam certos que era esse o desejo que Débora tinha no coração.

Certa manhã, logo ao despertar para retomar o caminho, os pais de Débora ficaram surpresos com os seus gritos:                                                                                                                                             
Olhem, olhem, lá está à porta dos sonhos! Vamos papai, vamos mamãe, ela existe mesmo!

E Débora toda aflita saiu às pressas, andando sobre as pedras, segurando seu papai e sua mamãe, até chegar diante de uma enorme porta. Tão grande tão grande que não alcançava a fechadura.

E Débora começou a bater na porta. Batia, batia, batia, seus pais a ajudavam e nada! A porta não se abria. As horas foram passando... passando... Débora não parava de bater na porta, até que todos, ali adormeceram.

Quando os pais de Débora acordaram assustados perceberam que ela já estava de pé, batendo na porta entristecida e decepcionada. Os pais de Débora, vendo-a assim, sugeriram que procurassem outra porta ou quem sabe uma janela. Débora notou que próximo à sua porta existiam muitas janelas e resolveu ouvir o papai e a mamãe, porém pendurou um recado na sua porta; “Volto logo!” Conseguiu abrir várias janelas, até se encantou por algumas, mas todo dia Débora voltava e tornava a bater na porta do seu sonho. Todos os dias!!!

 
O tempo foi passando e Débora se ocupando com tudo que as outras janelas lhe proporcionavam e parecia que até havia esquecido da sua “grande porta”. Que nada, ela comprou até uma luneta para espiar sua porta de longe!

Depois de muito tempo, quando todos achavam que Débora tinha desistido do seu sonho, se conformado com outras janelas, seus pais ouviram um forte, forte, mais forte grito vindo de lá mesmo, de onde você está pensando, da grande porta do sonho de Débora.

 
-Abriu, abriu, abriu ! A minha porta se abriu. Papai, mamãe, eu consegui, eu consegui!

 
Todos, todos, todos correram para ver o que muitos já haviam desistido de esperar.
 
Não Débora, ela jamais desistiu!

 
* Escrito pela madrinha CLAUDIA, minha esposa, para nossa afilhada  
                          

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Minha cova, minha morte

   
MINHA COVA, MINHA MORTE! 

  Nasci em uma época em que os cemitérios, assim como várias necessidades essenciais, eram quase que exclusivamente públicos, razão pela qual não havia tanta preocupação assim aonde iriam ser enterrados os mortos. 

  Curioso que apesar disso, também era bem menos comum o tipo de “vida pasmacenta”, digamos assim, esse fenômeno da modernidade em que muitas preocupações que flagrantemente nos dizem respeito, são deixadas por conta dos outros, dessa forma não contribuindo sequer para o próprio sustento, quanto mais se precavendo, por exemplo, como é que serão suportadas - sabe-se lá por quem – as despesas do próprio funeral.

  A verdade é que, atualmente, apesar da grandeza do mundo, diz-se, os espaços estão escassos até para os vivos, quanto mais para os mortos... 

  Então, quando se vai a um cemitério e se vê aqueles jazigos enormes – existem ainda muitos assim - impossível não pensar em uma “reforma mortuária”, não é mesmo? Como é que pode “alguém” ocupar um espaço tão grande enquanto vários outros estão por aí “penando”, sem ter sequer um “dormitoriozinhozinho” para “descansar em paz”? 

  Será que não existe nenhuma alma bendita que seja capaz de editar um decreto “proibindo de morrer” por um bom tempo? Quem sabe, então, alguém um pouco mais engenhoso, ao menos “proibindo ‘determinantemente’ de matar”, o que, em nosso país, certamente, já desafogaria bastante a demanda nos cemitérios?... 

  De qualquer forma, caso você não tenha conhecimento, a preocupação governamental é enorme com relação a esse assunto. E como a iniciativa privada está aí para contribuir e também tentar se virar, principalmente em momentos de crise como o de agora, tomei conhecimento que está no “forno”, um programa que tem tudo para aquecer a economia e auxiliar bastante a resolver o problema.

  Para providenciar a sua “estada definitiva”, cada cidadão pré-morto que se interessar receberá um “bônus cadavérico” (não confundir com o “auxílio funeral”) de R$ 10.000,00 (dez mil reais), dinheiro esse que será repassado diretamente às empresas do ramo, inclusive várias novas que certamente surgirão, proporcionando incremento de “empregos diretos e indiretos”. Aleluia! 

  O mercado de terrenos também restará mais aquecido, com a procura de espaços para ampliar a oferta, sem contar os financiamentos, em longas e “suaves” prestações, para os beneficiários saldarem o restante da dívida para com a sua morte. 

  Tudo bem que os terrenos irão subir bastante; mais uma despesa será significativamente majorada para a população, em geral; para otimizar espaços e atender às novas configurações da “mortandade moderna”, passarão a serem enterrados em pé etc. Porém, o que significa isso diante da grandeza desse programa, capaz de ressuscitar qualquer agente político que se proponha a lançá-lo, efusivamente, óbvio, cercado de recursos financeiros para a necessária “publicidade” do saudável e fenomenal: “MINHA COVA, MINHA MORTE!”?

  Quem não morrer, verá!

sábado, 24 de setembro de 2016

Laís "Cordeiro de Lima" e Sara "de Coubertin" (contina ação)




LAÍS “CORDEIRO DE LIMA” E SARA “DE COUBERTIN” (continua ação)


  Por ocasião da XIV CORRIDA GAROTADA, aos 16.08.2015, escrevi o texto que deu origem à saga LAÍS “CORDEIRO DE LIMA” e SARA “DE COUBERTIN”, já que, neste ano, agora em razão da XV CORRIDA GAROTADA, realizada aos 17.09, resolvi retornar ao assunto, devido aos fatos ocorridos, em “continua ação”

 Naquele primeiro momento, devido a aspectos organizacionais que considero como essenciais para esse desdobramento, a Laís caiu, “se relepou”, “levantou, sacudiu a poeira e deu a volta por cima”, chegando em terceiro lugar, recebendo generosa premiação (par de patins, par de tênis, short, camiseta, troféu, toalha, meia soquete e chocolates).

  Já a Sara, mais precavida, na linha de largada, cada vez que ia sendo espremida, chegava mais para trás, situação que considerei fundamental para que chegasse em quarto lugar (posição “carinhosamente” conhecida como a de “primeiro dos últimos”, já que lidera o pódio dos que não recebem premiação), o que, incrivelmente, não abalou a Sara, devido ao seu invejável espírito altruísta. 

  Neste ano, diga-se de passagem, sob meu ponto de vista, a organização esteve bem melhor: categorias 10-11 e 12-13 correram separadamente e em mais baterias; o “funil”, dividindo a pista em duas (ida e volta) pouco depois da largada, passou para mais adiante, diminuindo-se as chances de queda no local - como ocorrera com a Laís. E, dentre outros aspectos, a Organização se mostrou sensível a ouvir ponderações, tendo certeza que dentre algumas absurdamente infundadas, sempre existe a possibilidade de algo que busque acrescentar ao evento, ou seja, construtivamente. 

   Foi nesse clima que dentre as dezenas de participantes a Laís alcançou o primeiro lugar, a Sara o quinto, embora, sob meu ponto de vista (corroborado pelos tempos bem próximos, em treinamentos) o formato da prova, definitivamente, não combine com a prevenida Sara, cuja primeira e não reprovável preocupação, é evitar se machucar, enquanto a Laís,...

  Somos eu, esposa e seis filhos. Todos presentes e envolvidos de alguma forma. Seja como eu, por exemplo, deixando de participar da corrida “Garoto-não-tão-garoto” assim; a esposa, muito envolvida com uma boa logística; alguns filhos acordando mais cedo, deixando outros afazeres etc. Acima de tudo, foi a família que correu com as duas. Logo,... A premiação é de todos, não é Laís?!...

  É isso! Embora o atletismo não seja o principal foco esportivo das duas, não desisto de incentivá-las, chegando a resultados que para nós são expressivos, especialmente diante do AMAdorismo com que são alcançados!

  E é por isso mesmo que fica mais difícil prever se haverá próximos capítulos, mesmo porque, só é bom se trouxer felicidade, essa que é a essência para tudo que se faz na vida. 

   E, finalmente, como no primeiro capítulo, as duas campeãs estão de parabéns!


quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Enfim? Chegou!



ENFIM? CHEGOU!
 

   No dia 13.09.2016, enfim?, chegou à Vitória, o Uber!

  Em escrito recente, sob título “sua alteza, o robô”, publicado no jornal “A Tribuna”, de 03.02.2016, abordei, de passagem, sobre o referido aplicativo, algumas implicações na profissão dos taxistas, dentre outros aspectos, inclusive, a vulnerabilidade a que exposto o destinatário do serviço, conforme “termos de uso” constante do sítio eletrônico da empresa (https://www.uber.com/pt/legal/bra/terms).

  Posteriormente, aos 06.03.2016, sob título “ponto para os aplicativos”: discorri: “(...) Inclusive, com a fragilidade inerente às relações interpessoais, modernamente, o ambiente se torna extremamente instável, valendo ilustrar que enquanto os taxistas se unem contra motoristas que prestam seus serviços por meio do uber, por outro lado, muitas vezes, se digladiam, entre si, quando se trata de aplicativos que permitem acionar o táxi mais próximo, desconsiderando, por exemplo, o respeito a normas de organização territorial. Isso, obviamente, enquanto todos eles não se veem atingidos, de alguma forma, diante dos avançados estudos patrocinados por gigantes da tecnologia, situadas dentre as mais ricas empresas do cenário mundial, visando alcançar objetivo tenazmente perseguido nesse campo, que é a implantação de automóvel tão “inteligente” que dispensa qualquer profissional para a sua condução. A propósito, diante de tantas reais necessidades que o avançado estágio tecnológico poderia auxiliar a suprir, parece absurdo que a humanidade ainda não tenha despertado para determinados objetivos e impactos de uma gama dessas inovações, notadamente no campo dos empregos (...).”  
 
  Fiz algumas outras considerações! Porém, não é que no tocante mais especificamente às discorridas no parágrafo acima, hoje, dia 14, um dia após o início dos serviços em Vitória, leio que a mesma empresa iniciou em Pittsburgh, no estado da Pensilvânia, um serviço de corrida de carros sem motoristas...

  No (muito) mais, quem viver verá! 
 

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Caçando pitangas



                
CAÇANDO PITANGAS

  Nunca pensei que um dia iria escrever sobre qualquer assunto cujo título, voltado ao objeto central do texto, fosse esse: caçar!

  Mas é que, atualmente, esse negócio está uma verdadeira febre! Então,...

  Não!... Não vá correndo chamar o Ibama ou a Polícia Ambiental, pois não estou me referindo àquela proibida caça de animais, mesmo porque, quanto a essa, a propósito, não sei como anda, embora, lamentável e indisfarçavelmente, venha percebendo a gradativa diminuição das áreas destinadas ao seu “habitat natural”, projetando que as “áreas de reservas”, no futuro, acabem se transformando quase que numa “Arca de Noé”,...

  Aliás, será que neste país que tem lei para tudo, a caça daquele, daquele, daquele... “serzinho”(?), que tanto alvoroço tem causado, não poderia, também, entrar no rol de ilegal???

  Bem, o certo é que me dá uma vontade louca de mandar muita gente “caçar um trabalho”, como diziam os antigos. Ah, mas isso é coisa um pouco ultrapassada, né?

  Na verdade, atualmente, poderiam até pensar que eu estou caçoando com este negócio de caçar, já que diferentemente daquilo que estão tão sofregamente procurando e encontrando em todo lugar, o trabalho está “raro” de encontrar, de tal forma que haverá imensa fila se em algum lugar ele ousar proporcionar a mínima possibilidade de se deixar pegar...

 Logo, como é muita gente sem o essencial para a vida levar, é melhor fomentar superficialidades facilmente acessíveis a todos, de preferência com o mínimo de esforço para pensar.

  Dessa forma, ao ver aquelas pitangueiras produzindo, pela cidade, em vários e belos locais acessíveis ao público, chego a sentir-me quase um constrangido criminoso ao pretender disseminar a ideia de sugerir junto à caça daqueles, daqueles, daqueles... serzinhos (?) que se aproveite a oportunidade para caçar uns desses frutinhos, seja para chupar, um saboroso suco preparar, ou, simplesmente, frutificar,...


segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Tudo se resume a um ou dois segundos

    
TUDO SE RESUME A UM OU DOIS SEGUNDOS

  Fim da excelente XII Copa Minas de Natação e cá estamos nós, cabralistas da natação, de volta ao nosso querido Espírito Santo. Amém!

  Mesmo se não chegamos todos à vitória, com certeza, somos os que estamos mais perto dela: Cariacica, Serra, Vila Velha, Viana,...

  Brincadeirinha! Só para diminuir a tensão que muitas vezes paira quanto ao tema, que é sério, porém, não deveria ser tamanho assim.

  A propósito, quanto a isso, tudo se resume a um ou dois segundos...

  Tá bom: às vezes um pouco mais! Porém, não se descarte que, em outras oportunidades, é até um pouco menos...

  A Laís mesmo, em uma das provas de etapa do sudeste, chegou em quarto lugar, a um centésimo da terceira. Em outra, compartilhou o primeiro lugar, rigorosamente empatada. E, aproveitando para “criativizar”, explorando lado bom, digo que isso é coisa pra gente grande, tipo Michael Phelps, Chad Le Clos e Laszlo Cseh, triplamente empatados em uma prova da recente Olímpiada (lembra?), porém, em segundo lugar (hehehe. Caramba, Joseph schooling, que isso, hein?!)

  O problema então é: como chegar a esse um ou dois (ou um pouquinho mais, né?) segundos? 

  Primeiramente, é preciso relaxar: afinal, se fosse tão bom assim, não seriam segundos, seriam primeiros!!!!

  Brincadeirinha de novo! Tem uma série de fatores, dos quais destaco: o atleta, a estrutura técnica e o tempo. 

  O aspecto mais fácil é com relação ao tempo, já que é o único objetivamente mensurável (e sem direito de defesa e de ficar bravo com a gente), daí o enorme contributo que esse fator vem proporcionando para a criação de “ambientes sadios de precoces exaustões”, digamos assim, a carga imposta especialmente às gerações mais recentes para tentar alcançar a “glória”, essa que vai cada vez mais se inserindo em contexto de “grande negócio”, capaz de movimentar cifras estratosféricas mundo afora, haja vista o apelo proporcionado pela “indústria do esporte”, obviamente, com todas as consequências que o forte viés econômico implica. 

  Com relação aos outros aspectos, ciente da difícil realidade do clube do qual honrosamente sou sócio, prefiro destacar, através desta competição, resumindo tudo o que leva a isso, o inigualável “calor” proporcionado a seus atletas (me desculpem os demais clubes, mas ficou nítido na arquibancada), seja enquanto nadando ou logo após a prova, do “risonho” ao “choroso”, pois é momento em que mais e melhor precisam ser recebidos e estimulados, se não for possível aquele incomparável colo, às vezes. 

  Quanto aos atletas, é óbvio que devem trabalhar e se dedicar ao máximo para melhorarem seus resultados, alcançando um, dois ou sejam lá quantos segundos almejarem. Seja por exigência própria e/ou dos terceiros (indispensáveis. Contudo, não são os primeiros, que é você, se é que me entende, caso contrário, pergunte a um terceiro!). E, mesmo assim, ciente de que os “adversários” também estão fazendo o mesmo! Além disso, muito conscientes de que quanto mais se avança, mais difícil vai ficando avançar, afora a importante consideração de que somos indivíduos fantasticamente diferentes, com respostas diversas aos estímulos, por mais igualitários que eventualmente possam ser transmitidos!!! 

  Enfim, estão de parabéns! Não é para qualquer um estar no lugar de vocês! Contudo, não deixem de ser gratos a quem lhes proporciona essa oportunidade, mesmo que você, eventualmente, não consiga enxergar os benefícios que estão sendo alcançados para toda a sua vida.[1]

  A nós, pais, avós, irmãos, tios, demais parentes, amigos, enfim: o objetivo são eles e não nós, que, obviamente, nos realizamos através deles. Sejamos os primeiros (e não os segundos, terceiros ou últimos) a verificar o que podemos fazer para melhorar um ou mais segundos na nossa importante missão. No fundo, é o objetivo mais fácil de alcançar, pois é o único que só depende de cada um de nós, sem a temível concorrência.




[1] A propósito desses benefícios, vide a crônica postada abaixo, aos 09.04.2016, sob título “Álvares Cabral”

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Jornada nas estrelas

 

JORNADA NAS ESTRELAS 
(mas que também poderia ser chamada de “CAMISA DA FAMA”)

  A formação de uma família é algo que considero tão gratificantemente incomparável que, hoje, 14.08.2016, dia dos pais, a possibilidade de ser um deles, sinceramente, é o retorno verdadeiro e indelével, que me realiza completamente, para o sempre, amém.

 Resolvo partilhar essa alegria pois a pressão sobre a família é tão grande que ela vai sendo enterrada, gradativamente, felizes, portanto, os que se dedicam a descobrir a riqueza que significa a dureza de desenterrar esse tesouro, necessitando de mãos firmes, coesas e vigorosas, já que o segredo desse enigmático mapa é cheio de pistas falsas e divisoras de esforços que, em sentido absolutamente diverso, deveriam somar-se.

  Logo, o caminho não é nada fácil, repleto de desafios, razão pela qual, para quem ainda nele não adentrou, somente o recomendo para os corajosos, dispostos a enfrentar não apenas mais uma dentre outras jornadas, mas uma verdadeira “jornada nas estrelas”, já que a viagem é extremamente longa e desgastante, porém, incomparavelmente bela e necessária para quem não consegue imaginar um céu desprovido das mesmas.

  Como toda viagem, ainda mais essa, deve ser bem planejada, o que, aliás, me fez refletir bastante ao lado de minha “copiloto”, antes mesmo de nossa decisão de embarcá-los, um a um, na inigualável nave-mãe, durante os seus primeiros meses de vivência.

  A propósito, antecedente a isso, fizemos um pacto que nos tranquiliza e dá certeza de que mesmo se algum de nós sofrer algum “defeito irreparável”, que nenhuma “oficina” ou “mecânico” dê jeito, o outro fará o impossível para levá-los ao único que oferece a “garantia estendida”, que foi, a rigor, o que nos convenceu a embarcar nessa incomparável aventura.

  Pois bem! Já que não vou me dedicar a enumerar as dificuldades que naturalmente se enfrenta na condução, para que não acreditem, falsamente, que no caminho “só se visualizam flores”, não vou, também, revelar as gratas surpresas que me foram preparadas pelos “passageiros” e pela “copiloto” para o “dia dos pais”, salvo uma que para mim teve um significado tão profundo que me levou a não caber dentro de mim, daí estas linhas.

  Ganhei uma camisa branca, extremamente simples, adquirida pela copiloto e que foi decorada pelo formato de uma das mãos besuntadas em tinta de cada um dos seis filhos, cujas impressões digitais desiguais sugerem a exclusividade de vários universos distintos, ainda que vinculados a um duplo liame gerador indissolúvel.

  Desta forma, para mim, se trata de uma verdadeira e exclusiva “camisa da fama”, algo que partilho de forma simbólica com os que se dedicam à dureza e beleza da “jornada nas estrelas”, esta que, infelizmente, resta um tanto diminuída devido à espetacularização da “guerra nas estrelas”, o chocante cada vez mais ofuscando o singelo em nossas vidas e, o pior, na de nossos filhos.     


sexta-feira, 29 de julho de 2016

Filhos são para sempre

  
FILHOS SÃO PARA SEMPRE 


  Todos já ouvimos falar de ex-esposa e ex-marido, aliás, diga-se de passagem, de forma cada vez mais frequente... Porém, não é muito comum a expressão ex-filho, embora, infelizmente, na prática, ela se mostre, também, bastante presente!

  Se a maioridade dos filhos resulta na extinção do poder familiar dos pais, ainda assim, obviamente, não se perde a condição de filho... Contudo, situações excepcionais, através de procedimento próprio, podem levar à perda do poder familiar, em razão da gravidade da conduta dos pais, possibilitando, inclusive, adoção do filho por terceiros, que se tornam seus genitores, para todos efeitos legais.

  Existem, também, os que fogem até do fundamental registro, não raramente escorados na resistente comodidade da negativa, sob alegação de dúvida quanto à paternidade, o que, a rigor, diante da inquietante possibilidade, deveria ocasionar, ao contrário, iniciativa para dirimi-la, tão simples ficou o exame de dna.

 Sob esse propósito, aliás, o poder público, através de vários órgãos, tem estimulado fortemente o reconhecimento voluntário de paternidade em casos de registros de nascimento só com maternidade estabelecida, o que tem gerado impacto bem significativo. 

 Todavia, ao revés, situação que tem se tornado muito comum, na esteira da superficialidade das uniões, é a figura do “pai de ocasião” ou da “rotatividade paterna”, “hoje sim, amanhã não mais”, inclusive com crescente demanda de ações negatórias de paternidade ou anulatórias de registro, tempos depois, bastante comum argumento de engano e necessidade de “dirimir dúvidas”, apesar das enormes consequências na vida de todos, especialmente na dos filhos. 

  Por isso, mesmo diante de exame de dna negativo, a alteração do registro, para exclusão ou mudança quanto à filiação, não tem se mostrado tão simples, levando-se em consideração, frequentemente, também, a paternidade sócio-afetiva, isto é, os vínculos estabelecidos.

 Mesmo se esses elementos forem frágeis, não se deve deixar de considerar a dependência econômica criada, já que o desejo de qualquer dos genitores deve ser avaliado, sempre, tendo em vista, primeiramente, os interesses do menor, parte mais frágil, delicada e ingênua, já que todos os atos são levados a efeito no registro civil sem a sua participação. 

 Enfim, o direito não pode funcionar como instrumento de consagração de fugazes interesses em tema de tamanha relevância e responsabilidade, como tem ocorrido, ante a interpretações que vem diminuindo a própria segurança inerente aos registros.

  Na verdade, em época que tais situações eram bem menos frequentes, o legislador se preocupou em definir como crime, o “registro como seu de filho de outrem”, sob péssima alcunha de “adoção à brasileira”.

  Isso demonstra que não é incomum o registro para atender a interesses próprios, sendo curiosa a constatação de que possível sanção já não inibe tanto, pois a pretensão de alteração do registro, em tese, importa na confissão quanto ao crime, tão importante o interesse do menor no contexto, que a própria norma ressalva que o Juiz poderá deixar de aplicar a pena “se o crime é praticado por motivo de reconhecida nobreza”: motivo nobre, obviamente, o filho!

 De qualquer forma, entende-se que raramente se deve afastar, judicialmente, as responsabilidades paternas no caso concreto, nem que se as aplique como “pai adotivo” que, no mínimo, aceitou ser, sendo que a adoção é igualmente irretratável.


domingo, 10 de julho de 2016



A LIBERDADE chega à sua plenitude quando se transforma em uma DEMOCRACIA de DITADURAS  i n d i v i d u a i s



terça-feira, 21 de junho de 2016



Imagine se no quilômetro trinta e cinco de uma maratona (quarenta e dois quilômetros, cento e noventa e cinco metros), o organizador, através de um megafone, avisasse a você que a distância mudou para cinquenta quilômetros? Refletiu???? Pois bem! É bom você, que está em algum lugar desse caminho, pensar como fará para alcançar a linha de chegada, pois os quilômetros percorridos não estão importando muito para a organização da maratona cujo troféu é a aposentadoria...