sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Minha cova, minha morte

   
MINHA COVA, MINHA MORTE! 

  Nasci em uma época em que os cemitérios, assim como várias necessidades essenciais, eram quase que exclusivamente públicos, razão pela qual não havia tanta preocupação assim aonde iriam ser enterrados os mortos. 

  Curioso que apesar disso, também era bem menos comum o tipo de “vida pasmacenta”, digamos assim, esse fenômeno da modernidade em que muitas preocupações que flagrantemente nos dizem respeito, são deixadas por conta dos outros, dessa forma não contribuindo sequer para o próprio sustento, quanto mais se precavendo, por exemplo, como é que serão suportadas - sabe-se lá por quem – as despesas do próprio funeral.

  A verdade é que, atualmente, apesar da grandeza do mundo, diz-se, os espaços estão escassos até para os vivos, quanto mais para os mortos... 

  Então, quando se vai a um cemitério e se vê aqueles jazigos enormes – existem ainda muitos assim - impossível não pensar em uma “reforma mortuária”, não é mesmo? Como é que pode “alguém” ocupar um espaço tão grande enquanto vários outros estão por aí “penando”, sem ter sequer um “dormitoriozinhozinho” para “descansar em paz”? 

  Será que não existe nenhuma alma bendita que seja capaz de editar um decreto “proibindo de morrer” por um bom tempo? Quem sabe, então, alguém um pouco mais engenhoso, ao menos “proibindo ‘determinantemente’ de matar”, o que, em nosso país, certamente, já desafogaria bastante a demanda nos cemitérios?... 

  De qualquer forma, caso você não tenha conhecimento, a preocupação governamental é enorme com relação a esse assunto. E como a iniciativa privada está aí para contribuir e também tentar se virar, principalmente em momentos de crise como o de agora, tomei conhecimento que está no “forno”, um programa que tem tudo para aquecer a economia e auxiliar bastante a resolver o problema.

  Para providenciar a sua “estada definitiva”, cada cidadão pré-morto que se interessar receberá um “bônus cadavérico” (não confundir com o “auxílio funeral”) de R$ 10.000,00 (dez mil reais), dinheiro esse que será repassado diretamente às empresas do ramo, inclusive várias novas que certamente surgirão, proporcionando incremento de “empregos diretos e indiretos”. Aleluia! 

  O mercado de terrenos também restará mais aquecido, com a procura de espaços para ampliar a oferta, sem contar os financiamentos, em longas e “suaves” prestações, para os beneficiários saldarem o restante da dívida para com a sua morte. 

  Tudo bem que os terrenos irão subir bastante; mais uma despesa será significativamente majorada para a população, em geral; para otimizar espaços e atender às novas configurações da “mortandade moderna”, passarão a serem enterrados em pé etc. Porém, o que significa isso diante da grandeza desse programa, capaz de ressuscitar qualquer agente político que se proponha a lançá-lo, efusivamente, óbvio, cercado de recursos financeiros para a necessária “publicidade” do saudável e fenomenal: “MINHA COVA, MINHA MORTE!”?

  Quem não morrer, verá!

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