terça-feira, 5 de maio de 2020

A globalização do vírus


A GLOBALIZAÇÃO DO VÍRUS 

Tão forte e firme a episódica onda mundial a partir de poderosas manifestações tocantes à supremacia da vida perante questões econômicas, que pode acabar infectando a memória da população quanto à contundência das ações (e omissões) estruturais regularmente desenvolvidas em sentido absolutamente contrário. 

Não por acaso surgida junto a outros relevantes organismos e documentos internacionais, após o fim de duas grandes guerras mundiais, a OMS, embora, no momento, concentre tanta atenção em torno de si, para ilustrar como esse prestígio é incomum, poucos sabem, por exemplo, onde se realizou o último Fórum Social Mundial da Saúde e Seguridade Social, ou sequer de sua existência, quanto mais o teor de seus documentos, enquanto, por outro lado, o Fórum Econômico Mundial repercute intensa e globalizadamente tudo que lhe diz respeito. 

É doloroso afirmar que se fosse invertido o ranking mundial de nações, quanto ao número de mortos, a propósito, como ocorre com a maioria das desgraças que abatem especialmente países mais pobres, o mundo não estaria quase que compulsoriamente irmanado, na forma em que se encontra. 

Aliás, possivelmente, o vírus sequer teria circulado com tamanha fidalguia mundo afora, mediante barreiras bem mais efetivas para mantê-lo em seus limites, considerando, inclusive, a expertise de destacados países quando se trata de evitar a entrada de indesejados. 

Como o vírus propagou-se a partir de nações economicamente mais desenvolvidas, não obstante as perdas sejam enormes para todos, deveria partir de si a iniciativa de indenizar especialmente as mais pobres, a título dos imensuráveis danos morais e materiais coletivos causados, mesmo porque, seguramente, oxalá ultrapassado este difícil momento, as consequências econômicas serão ainda bem mais penosas (in)justamente para os povos mais carentes. 

Ensina a vivência que o momento é o mais adequado para construção de compromissos nessa linha, antes que a economia volte a externar de forma mais soberana seu reinado sobre tudo e todos, inclusive diminuindo a veemência como se ousa desafiar a subserviência, reservada como lugar cativo à humanidade. 

Neste importante capítulo da história, somos todos convidados a auxiliar a melhor escrevê-la, por meio de iniciativas que levem a compromissos e responsabilidades globais, preferencialmente pela via de mediações e conciliações internacionais, principalmente através das instâncias diplomáticas voltadas para tal finalidade, sem esquecer da plêiade de políticos, juristas e economistas, entre outros, capazes de elaborar e defender em quaisquer ambientes, como se fizer necessário, os interesses públicos transnacionais que a matéria comporta. 

Enfim, já que o vírus demonstrou o quão somos interdependentes e rápidos na partilha de catástrofes mais sensíveis ao olhar, sejamos ao menos um pouco mais rápidos na partilha de meios para as economias nacionais o saldo desse mal enfrentarem, ao invés de uma oportunidade a mais para lhe subjugarem.