sexta-feira, 22 de julho de 2022


CINQUENTA ANOS DEPOIS DO "HÁ DEUS"!

No dia 12.06.2015, completei cinquenta anos de idade!

Para mim, por se tratar de uma data muito especial, a bodas de ouro da existência, com o inestimável auxílio de minha esposa, filhos e algumas outras pessoas importantes neste curso de vida, me presenteei com três atividades específicas no dia: pela manhã, uma corrida de 10 quilômetros, por mim organizada, na Praia de Camburi, a primeira e até agora a última em que consegui chegar na frente, mesmo porque aniversário até rima, mas não é data para comemorar com adversário rsrs; a segunda, uma Missa na Igreja São Gonçalo, na Cidade Alta, no ínicio da tarde; e a terceira, à noite, o lançamento de três livros, no Shopping Norte Sul (ARTIGO CINQUENTA [...e alguns parágrafos], 50 POR ORA e MULHER 1 X HOMEM 1 - A Igualdade no Casamento).

Pois bem! Hoje é dia 22.07.2022! Não exatamente um outro "dia dos namorados", como aquele, mas, igualmente, uma abençoada sexta-feira! Outra data muito especial na minha vida, porém, por uma razão muito diferente: trata-se do dia em que, há exatos cinquenta anos, ocorreu o falecimento de minha mãe, JURACY DE SOUZA SILVA! Só que, desta vez, embora não tivesse previsto nada além da Missa, à noite, fui presenteado com a confirmação de algo "transcendental" para a data: no início da tarde, farei palestra no Centro Pedagógico do Iases, em Cariacica, para sócioeducandos, sob o título "NÓS NÃO NASCEMOS PARA INTERROGATÓRIO", frase essa surgida durante a elaboração de um depoimento para o livro "Representatividade Negra no Direito Capixaba", lançado pela editora Cousa, no corrente ano.

Tenho pouquíssimas lembranças de minha mãe. Aliás, dos sete anos que estivemos juntos neste plano terrestre! Raríssimas fotos! Nenhuma ao seu lado! Deixou quatro filhos, todos homens, sendo eu o mais novo, enquanto os demais tinham nove, dez e doze anos de idade! Certamente, na linha de minha ascendência, que, salvo ela, não cheguei a conhecer nem no grau mais próximo, o de avós, era uma vida de muita dificuldade e luta! Aliás, tenho conhecimento de que minha mãe era muito, muito trabalhadora! E, se chegamos até ali, é porque, além disso, se dedicava ao extremo também a nós!

Casada com meu pai, eram muitas as dificuldades para criar os filhos! Abortou desta vida, mas jamais de um que seja dos rebentos concebidos (acho que eu, sendo o último, se fosse o caso, teria corrido o maior risco rsrs).

Vida que segue para os que ficam, meu pai casou de novo, tenho outros três irmãos (duas mulheres e um homem)! Faleceu em 1993, portanto, eu já era adulto e bastante companheiro do mesmo! Deixou esposa, minha madrasta, com quem mantenho cotidiano convívio!

Honrar pai e mãe, para mim, significa muito! Por isso, nesta data, tão especial, acho que é momento oportuno para ligeiras pontuações sobre algumas coisas que fiz e pretendo fazer, embora deixando os meus também muitos defeitos e equívocos para narrar em uma outra oportunidade rsrs:

Para dizer a verdade, eu não vivi a infância, sobrevivi a ela, trilhando os caminhos que iam aparecendo para alguém que não tinha preguiça de se lançar às oportunidades que surgiam para ganhar uns trocados, sem deixar de lado a escola, embora, a rigor, sem saber nem muito bem para quê, já que, à época, tão ou mais importante do que pensar no futuro, era auxiliar a família no presente!

Ou seja: as atividades "extracurriculares" rsrs, sempre me acompanharam, embora o meu primeiro emprego com carteira assinada tenha se dado aos dezessete anos, quando passei a receber um almejado salário mínimo!

Não dava para enfrentar vestibular em universidade pública para o curso pretendido, razão pela qual continuei trabalhando e, após aprovação em concurso público do Banestes, parti para o interior do Estado, de onde retornei, com 21 anos de idade, conseguindo conciliar as atividades com um cursinho intensivo, sendo aprovado, no ano seguinte, 1987, no curso de Direito da UFES.

Se "perdi" um tempo para entrar, ano em que completaria 22 de idade, consegui recuperar parte dele, pois, embora a grade curricular previsse cinco anos e já trabalhando em outro local, Justiça Federal do ES, consegui concluir o curso em quatro, orgulhosamente com o melhor coeficiente de rendimento da turma e tendo, inclusive, exercido a honrosa função de coordenador-geral do centro acadêmico.

Concluída a graduação, vieram concursos e aprovações voltadas para a carreira jurídica e, já no ano seguinte, como jamais sonhara, estava aprovado para o cargo de Promotor de Justiça no meu querido Estado do Espírito Santo, onde estou há trinta anos!

Nesse intervalo de tempo, fui aprovado também para professor do curso de Direito da Universidade em que estudei, porém, fiquei pouco tempo, reconhecendo que existem muitas pessoas mais vocacionadas do que eu para a nobre função, além do que, já possuía outra atividade profissional que me retribuía bem e exigia bastante, afora a constituição de família, com minha esposa grávida do nosso primeiro dos seis filhos que a vida nos brindou, logo, minha prioridade absoluta, sem sofismas!

A propósito, após trabalhar em diversas áreas do Ministério Público, atualmente minhas atribuições são em Promotoria de Família, onde me sinto bastante motivado, especialmente tendo em vista que, por força de lei, intervindo, basicamente, "somente" em situações que envolvam interesse de incapazes, minha atuação acaba centrada naqueles que cada vez mais sofrem os graves efeitos da desestrutura familiar, que são os filhos menores.

Já com relação a questões sociais, especialmente após a co-autoria no livro lançado este ano, como mencionei adrede, os direitos ínsitos à afrodescendência, notadamente no que tange a oportunidades, passou a ter um foco mais presente em minha vida.

Inclusive, recentemente, embora tenha me inscrito visando promoção para cargos vagos de Procurador de Justiça, pouco antes da votação eu declinei motivadamente do certame, tendo em vista que uma vez convencido da importância e legalidade das cotas raciais em cargos superiores da administração pública, me senti incomodado na situação de possível beneficiado de uma linha que passei a defender, de forma bem mais veemente. No fundo, sinto que a vida já me deu muito mais do que eu poderia esperar. Logo, penso que não deva ser eu a pretender mais dela, mas sim, ela de mim.

De qualquer forma, como os registros tratam como mero pedido de desistência, cabe esta pontuação, até porque entendo que se a assimilação desta linha, hoje, no que tange à administração pública, já seria tardia, muito mais com relação ao Ministério Público, devido ao seu perfil constitucional, conforme mais detalhadamente sustento e pode ser conferido em https://jus.com.br/artigos/97351/instituicao-de-cotas-nos-cargos-superiores-da-administracao.

Por fim, retorno à palestra de hoje à tarde, "NÓS NÃO NASCEMOS PARA INTERROGATÓRIO", no IASES, voltada para sócioeducandos, firme na premissa de que se esses adolescentes estão em situação de extrema vulnerabilidade a estímulos negativos, os positivos ainda mais devem se mostrar e prevalecerem.

Trata-se de algo que venho pensando e me preparando há anos e que, por coincidência do destino, se realiza justamente neste dia mágico, augurando que, oxalá, alcance corações e almas para os quais é voltado, um presente que minha mãe, certamente, se orgulha em receber, ainda mais porque é um daqueles que queríamos muito que tivesse chegado também ao seu e nosso querido JOSÉ LUIZ!


domingo, 10 de julho de 2022

Havia uma missa no meio do caminho



NO MEIO DO CAMINHO TINHA UMA MISSA

Recebi aquela notícia como quem se vê diante de um copo meio vazio: o Campeonato Brasileiro Júnior de Natação estava suspenso! Pouco depois, o copo esvaziou um pouco mais: a competição estava inapelavelmente cancelada!

Ora, se o copo não se esvaziou totalmente, então ainda estava ao menos um pouco cheio, não é!?

Fazendo uma verdadeira “ginástica” para que isso ocorresse, vim a Salvador (não riam, acreditem!!!) imbuído exclusivamente do propósito de acompanhar minha filha em mais este importante certame de sua jovem vida.

Chegamos na terça-feira, dia 05.07, ela nadou na quarta, a suspensão e cancelamento se deram na quinta, sendo que minha filha completaria sua jornada no sábado, dia 09, com retorno para a nossa Vitória do Espírito Santo no domingo.

Após digerir a notícia, imediatamente busquei antecipar o retorno, porém, isso exigiria o dispêndio de uma “extorsiva” quantia que jamais me submeteria a pagar, mesmo porque não me encontrava diante de uma completa “restrição da liberdade da vítima”...

Olhei para o copo um pouco cheio... Quer saber de uma coisa? Abaixo desse nível ele não ficará de jeito nenhum!

Firme no propósito inicial de acompanhar a minha filha, o mais importante era saber como ela estava avistando o seu copo e tratar de auxiliá-la a não baixar “de” nível (e nem “o” nível, já que esse tipo de conduta contribui para copos derramados no caminho...).

Estávamos sem a presença física do treinador dela, mas tomando conhecimento de que no mesmo horário da competição ocorreria uma bendita “Copa Salvadora”, mediante contatos com outros “Copos Salvadores”, conseguimos inscrevê-la nesse evento e o copo à minha frente já me pareceu bem menos vazio, ou melhor, um pouco mais cheio.

A “concentração” permaneceu a mesma, logo, rotina de atleta e “staff” (rsrs) de atleta, já que as suas provas ocorreriam no último dia da competição, ou seja, sábado, dia 09.

Mas foi justamente nesse dia que eu senti o “meu copo” nem um pouco vazio, ou melhor, totalmente cheio!

Minha filha nadou pela manhã! Voltamos para o hotel! Era por volta de 10:00 horas. O aquecimento do período da tarde seria às 15:30. Devido à minha afrodescendência, gosto muito de usar um tipo específico de chapéu que remete às origens. Desta forma, após rápida pesquisa, concluí que a minha maior chance de incrementar  meu vestuário ocorria naquele momento e se encontrava no Mercado Modelo. Trinta minutos para ir, mais trinta para voltar, uma meia hora para rápida pesquisa no local... Sim! Dava para eu ir! Logo, iria!

Por espontaneidade a atleta não me acompanharia! Mas não me senti cometendo nenhum “constrangimento ilegal” ao convencê-la a ir comigo! No fundo, além de realmente querer a sua companhia até o local, achava que isso faria mais bem a ela do que a mim, embora, obviamente, seja difícil até eu mesmo acreditar nisso (rsrs).

Percorri praticamente todas as lojas do local e não encontrei o que pretendia em nenhuma delas. Mas, não um, nem dois, e sim três lojistas me remeteram para uma espécie de “Posto Ipiranga” do assunto:

    - Procura logo ali, em frente ao “elevador”, o Jamaica! Ele resolverá!

    - Mas, quem é o “Jamaica”? Como vou saber que tal pessoa é ele?

    - Ele é único! Você vai olhar e vai saber que é ele!

Constatei rapidamente: pura verdade!!!

Contudo, aqueles trinta minutos que calculara seria utilizado para uma possível pesquisa e compra se tornaram um pouco mais! Na verdade, enquanto o “Jamaica” não encontrou algo que me satisfizesse, não sossegou! Tirava os chapéus de tudo quanto é lugar! Tinha tanta coisa espalhada em seu pequeno recinto que a impressão é de que ele buscava coisas até no subsolo para me apresentar mais de uma centena de peças do seu produto!

Com a inestimável ajuda também de minha filha e de um daqueles espelhinhos do “Jamaica”, que lembrava a minha infância, escolhi cinco chapéus, além de ter ganhado um de brinde! Tudo por R$ 50,00 (cinquenta reais). Diante da modicidade do preço (os que tinha, até o momento, não saíram por menos de R$ 30,00, cada), tentei ao menos pagar pelo que ganhara! Que nada!: - Você leva mais este outro, então, que custa R$ 15,00, mas vou fazer pra você pelos mesmos R$ 10,00.

Compra concluída, não daria tempo nem para conhecer o famosíssimo “Elevador Lacerda”! Bem ali à minha frente! Que pena!...

Que pena? Uma “Escolha de Sofia” entre o “Elevador Lacerda” e o “Jamaica”? Me desculpem: fico e recomendo, sem pestanejar, o “Jamaica”!

Mas o melhor de tudo estava por vir! A foto! Aliás, a sessão de fotos com o “Jamaica”, com o “Elevador Lacerda” de prestigioso “ator coadjuvante” ao fundo! Essas fotos são mais que um grande troféu que conquistei e vou levar para sempre desta viagem!

A propósito, o “Jamaica” por umas duas vezes falou que em 2023 terá que ir a Vila Velha (cidade vizinha à que moro, separada apenas por uma “Terceira Ponte”). Como ele me passou o telefone e disse que posso encontrá-lo em tudo o que diz respeito a rede social, até lá vou procurar saber quando irá ocorrer a tal viagem para poder retribuir ao menos um pouco do bem que ele me fez aqui!

Ora, o que tem a ver o “Jamaica” com o título desta crônica? O “Jamaica” é um Deus? Menos, né “Jamaica”! No máximo, talvez, um Santo rsrs.

Sim: o título poderia ser “No meio do caminho tinha um ‘Jamaica’”! Mas não é assim porque havia algo ainda maior e mais importante por vir!

Desde antes do início da viagem, minha filha falou que após o evento, no pouco tempo que restaria para retornarmos para nossa casa, queria se encontrar e permanecer com alguns amigos, atletas de outros Estados, agora sem o “peso” da “concentração” para o outro dia de “labuta”, o que, diga-se de passagem, considero extremamente saudável.

Logo, fui com a mesma até o local onde haviam combinado, a deixei lá e parti em retorno para a minha hospedagem, com aquela enorme mochila típica de atleta de natação nas costas. Simplesmente porque tem coisas que não precisam de razão nenhuma para acontecer ou não, resolvi não voltar pela bela orla, mas por uma avenida paralela, quando me deparei com aquela linda Igreja, que já tinha visto antes, mas não reparado como no momento, pois estava bastante movimentada.

17:40? Sábado? Deve ser casamento!...

Não era!

Perguntei a alguém que estava na escadaria de acesso e ele me informou que era Missa e que começara a pouco!

Estava de chinelo, com uma enorme mochila nas costas... Mas, dentre algumas bermudas que trouxera, eu não estaria trajado com a calça que também viera na bagagem, por acaso...

Porquê entrar? Porquê não entrar? Entrei-oo Amado Mestre!

Amado Mestre mesmo!

Acreditam que era justamente o dia de Festa dos 62 anos da Paróquia Nossa Senhora da Luz, onde inclusive estava presente o Bispo, Dom Sérgio???

E, para finalizar, após a Missa, porém, anunciado nela, o lançamento do primeiro livro, infantil, de uma professora, Alexsandra Vieira, chamado “Clara das Nuvens”. Impossível não ser aquela “benção final” que eu tinha a chance de levar, como estou levando, para minha casa!

Voltando a falar do copo, que acabou ficando um pouco para trás:

Evidente que também entendo que os episódios que circundam o cancelamento da competição envolve uma série de fatos que podem e devem ser melhor avaliados, até porque líquidos derramados não retornam para os copos...

Por outro lado, no que tange a cada um, PRINCIPALMENTE OS ADULTOS, é agir com a maior prudência possível, buscando, especialmente, influenciar no naturalmente difícil equilíbrio do heterogêneo grupo de principais “vítimas” da situação, ou seja, atletas, jovens, cheios de aspirações pessoais, agrupados em diversos clubes, diante de delicadas circunstâncias que permearam o abrupto cancelamento do evento, independentemente de qualquer juízo de valor que se faça quanto ao mesmo...

Enfim, no que tange a mim, diante da enorme tempestade que repentinamente se formou, tentei aproveitar para encher um pouco mais o meu copo, então meio cheio, torcendo que TODOS, mas, especialmente a minha filha, tenha conseguido se valer ao menos um pouco da borrasca também, já que, nessas circunstâncias, só aceitaria a ideia de esvaziar o meu se esse fosse o irreal caminho para acrescentar ao menos uma gota no copo dela.

E como, certamente, a tempestade não terminou, é o que sinceramente desejo para mim, para você, para todos nós, não só no que tange a este episódio, já que os copos, queiramos ou não, nos acompanharão por toda a vida, o que menos importando é se são “Nadir” ou “Stanley”.




(Domingo, 10.07, Aeroporto de Salvador-BA, após trazer minha filha para o seu voo, durante “aquela” oportunidade de espera de quatro horas, até o meu).