segunda-feira, 3 de maio de 2021


O SEGREDO DA LAÍS PARA O RECORDE CAPIXABA NOS 50 METROS LIVRE? TREINAR "POUCO"!


A Laís é a quarta de seis irmãos, todos, em algum momento, com passagem pela natação do Clube de Natação e Regatas Álvares Cabral.

Embora reservando tempo para outras atividades próprias à criança, por também considerarmos muito importante o esporte na vida deles, analisando as diversas situações inerentes à escolha por essa ou aquela modalidade, optamos pela natação, dos cinco aos dez anos, mediante obrigação de dedicação e disciplina.

Isso não significa tolhê-los de eventuais outras atividades, tanto que praticam ou já praticaram várias, de forma concomitante ou após, sem desconsiderar, obviamente, a necessidade do equilíbrio, especialmente com a escola, ponto esse que, aliás, jamais escaparia à marcação da mãe, por sinal, professora!

Tendo os outros três cumprido muito bem a sua etapa na natação, levando dela, para a vida toda, muita coisa boa, em 2015, aos dez anos, chegara o momento da Laís exercer a sua "prerrogativa" de também deixar a natação (aliás, ela sempre me diz - mas eu não lembro - que devido à sua dedicação, iríamos "deixá-la" sair aos nove, mas fez algo que eu não gostei e "exigi" que cumprisse o "contrato", integralmente)!

Porém, percebendo que ela tinha muito talento, com o "apoio" até dos irmãos mais velhos (rsrs), mediante algumas pequenas concessões, fomos "renovando o vínculo", ano a ano, permitindo que as diversas situações, além do talento da Laís, fossem moldando uma atleta de enorme potencial.

O fato de ela, então com dez anos, não gostar de treinar de forma exageradamente intensa, por muito tempo e nem durante os vários dias da semana, de certa forma, coincide com minha visão, em busca do equilíbrio! Mesmo em se tratando de esporte de alto rendimento, não me convenço que uma modalidade como a natação, por sua essência tão saudável, combine com um "ambiente sadio de precoce exaustão".

Sendo naturalmente presumível que um maior volume de treinos, em primeiro momento, enseje melhor rendimento, esse caminho "mais fácil", contudo, além de gerar uma "bola de neve", devido aos ambientes cada vez mais competitivos, em meu sentir, ainda me passa a sensação de que pode auxiliar a mascarar aspectos técnicos, do atleta e/ou do seu "staff", situações que uma vez trabalhadas, eventualmente, poderiam gerar melhoras, porém, envolvendo questões muito mais complexas do que "simplesmente", de forma precoce, ir aumentando exageradamente carga, "dobrando" etc.

Logo, "treinar pouco", para mim, num primeiro momento, não era problema, muito pelo contrário! A propósito, ponto que considero fundamental, desde que obedecidas premissas basilares,  é, sempre que possível, respeitar a individualidade de cada atleta, explorando ao máximo o seu potencial, de acordo com as suas particularidades.  Mas tínhamos o clube e o técnico...

Felizmente, mesmo enfrentando natural resistência, já que nem tudo dependia de si, o Professor Marcos Guimarães, aceitou o que chamo de desafio de "fazer mais com menos", afora a capacidade que teve para lidar com um pai leigo, porém, curioso e enxerido, uma atleta "preguiçosa", friorenta e com as suas exigências, das quais não abria mão, tipo um "contrato" em que teria tempo para isso e aquilo, dentre outras (pequeníssimas, diga-se de passagem) concessões...

Foi dessa forma que continuaram os treinos nos três dias da semana, sem as disseminadas "dobras": terça, quinta e sábado, pela manhã (e alguns poucos domingos, quando eu a convencia e a levava para uns "tirinhos secretos" rsrs) aos 11 (2016), 12 (2017), 13 (2018) e 14 anos de idade (2019).

Com dez anos (mirim II), tudo bem! Com onze (petiz I) ainda alguns resultados expressivos, como a vitória nos inesquecíveis 100 peito e, logo após, os 100 borboleta, no sudeste de natação,...

Aos doze, petiz II, foi quando ela e nós tivemos uma grande oportunidade de conviver e trabalhar com muitas frustrações, já que não ganhou nada, até porque, inegavelmente, neste momento, a pouca carga fez muita diferença... Mas, se o projeto é maior, isso é passageiro, pensava e falava para ela, considerando que se não desaprendera, apenas se poupava, pois "apenas possuía" doze anos e não "já possuía" doze anos!

Aos treze, infantil I, nada muito diferente do ano anterior, salvo um "grandiosíssimo" alento: o seu "fôlego" só era suficiente para as provas de 50 metros (a velocista estava forjada por uma série de fatores, né!?) e, numa "despretensiosa" competição, aqui no nosso querido Estado do Espírito Santo, fez um tempo muito bom nos 50 metros costas (quase não se dedicava a esse estilo, acreditando-se que nadava melhor as outras três modalidades), o que a levou para o sul-americano escolar, em Arequipa, Peru, onde, orgulhosamente, representou o nosso País, conquistando inacreditáveis três medalhas de ouro: 50 metros costas, 4 x 50 livre e 4 x 50 medley).

Aos catorze, infantil II, praticamente a mesma rotina, porém, já bem mais próxima dos pódios e, em algumas pouquíssimas vezes, chegando a ele em competições nacionais, porém, novamente ouro no sul-americano escolar, resultado obtido como integrante do revezamento brasileiro, em Assunção, Paraguai.

Aos quinze, juvenil I, mudou de técnico... Mas não de estilo (rsrs). Tendo alterado o turno, na escola, passou a treinar no vespertino, com o Professor Ozimar Gomes, que também se mostrou compreensivo e atencioso. Agora, quatro vezes!!! Porém, em um desses dias, de forma bastante complicada, pois treinava menos tempo, já que chegava mais tarde devido a inegociável "dobra" na escola (também tenho minhas reservas quanto a isso, mas, nesse caso, minha opinião pouco vale!).

Apesar da trágica pandemia que se instalou em nosso país e no mundo, com os cuidados inerentes, nadou umas poucas vezes no ano de 2020, conseguindo tempos considerados muito bons, especialmente em uma competição realizada em Recife, em setembro, quando nadou os 50 livre para 26,94 (estava balizada com 27,37) e os 100 para 59,88 (óbvio que os 100 continuam não acompanhando os 50, mas, nas circunstâncias, tempo muito bom, inclusive, a primeira vez abaixo de um minuto: balizada com 1.01.92, concluiu com 59,88).

O resultado nos 50 metros, a propósito, lhe deu índice para o Troféu Brasil de Natação, onde, com o tempo de 26,87, alcançou a nona classificação na etapa eliminatória, ou seja, a primeira atleta fora da final A, sendo que a oitava passou com 26,86 (ainda bem que frustração não era coisa nova na vida dela rsrs)!

Com a remodelação da natação do Clube de Natação e Regatas Álvares Cabral, em abril do corrente ano, a Laís mudou novamente de técnico, desta vez o não menos competente e vitorioso Professor Alexandre Antunes! Ela continua treinando quatro vezes por semana, até por força das circunstâncias, porém, de nossa parte, sem, ainda, intenção de alterar, o que, embora com um pouco mais de contrapontos, resta assimilado.

E não é que, assim, a Laís, no dia 1º de maio, durante Tomada de Tempo Oficial da Equipe Acqua - Cnrac, nadando para a sua nova melhor marca, 26,62, chegou, ao que consta, ao recorde capixaba para os 50 metros livre absoluto, cuja marca, anterior, era de 26,85?

Pois é! Embora leigo, porém há vários anos praticante de rotineira e disciplinada atividade relativa ao esporte amador, além de pai participativo na vida dos filhos, sempre entendi e cada vez me convenço mais que o velocista necessita de menos piscina do que o fundista, porém, não de menos dedicação. Eventual menor tempo na piscina deve ser compensado com a busca de nível ótimo de entrega! E redobrada atenção para os fundamentos!

Foi dessa forma bastante peculiar que a Laís chegou até aqui, a este recorde, sendo estas poucas linhas uma espécie de "argumento" para quem acredita que treinar "pouco", em determinadas situações, não se mostra como impeditivo para se ir alcançando excelentes conquistas,... Mas, como disse, a contrapartida é no sentido de que o tempo voltado para a atividade, seja subjetivamente incorporado como de dedicação extrema, muito mais do que se é exigido de qualquer outro.

Por fim, não posso deixar de ressaltar que, no fundo, a bem da verdade, o tempo da Laís para a natação pode até ser considerado curto... Mas esse tempo é voltado para atividades que muito contribuem, já que, embora "treine pouco" para essa específica atividade, com a compreensão dos professores Luiz Claudio Ventura e Fernando Pontes (já que o tempo é ainda muito menor, evidente!) é campeã da corrida garotada, recordista estadual sub 14 nos 800 metros livre e sub 16 nos 1000 metros, distância essa que, inclusive, lhe deu medalha de prata na etapa nacional dos jogos escolares, em 2019, mesmo ano em que medalhou também nos 50 metros costas na natação,...

Embora de forma também ainda incipiente, faz um trabalho específico para os ombros e, recreativamente, pratica skate, toca violão, patina, joga bola, vive como uma adolescente (com moderação rsrs), é cobrada a estudar bastante (claro!) e, essencialmente, a rezar (aqui sim, sem moderação!!!).

Impossível deixar de salientar, também, no contexto, a obrigação quase semanal que tenho, seja no sábado ou no domingo, de levá-la para algo que tem adorado muiiiiiito fazer, que é surfar!!!...