sábado, 8 de julho de 2017

Parquímetro de rua



PARQUIMETRO DE RUA 


  Como eu era muito burro (isso antigamente, pois, hoje, salvo se for o próprio quadrúpede, é proibido ser burro) acredito que trago dessa época a dificuldade em me acostumar com muitas das transformações que inteligentemente me impõem as “cidades inteligentes”.

  A mais nova delas é o parquímetro, que, como toda inovação disruptiva (sabe o que é isso?), foi chegando devagarinho, tomando conta do pedaço e pronto: vai “democratizar” o uso daquilo que é nosso, mas o “dono” não faz o que deve, quando deve e daí surge o pretexto para fazer o que não deve quando não deve. Aliás, vou usar palavras mais inteligentes, obviamente que não minhas, para definir os “propósitos” desses equipamentos: “racionalizar o uso do solo em áreas adensadas, disciplinando o espaço urbano e permitindo maior oferta de estacionamento”.

  Embora pouco se saiba sobre a sua nacionalidade (mas, evidentemente, não surgiu aqui), como se propagou pelo mundo, em quantos e quais gabinetes adentrou, que força de argumentos utilizou etc., o certo é que a sua roupagem é muito linda, especialmente porque - e aqui está a verdadeira chave do sucesso - NÃO PRECISA SE VESTIR (espero que você me compreenda, apesar de eu, sinceramente, ter dificuldades em saber se eu me entenderia, caso não fosse a escrever): faça chuva ou faça sol, está imune a agravos sérios por essas ou outras circunstâncias da “vida”, 24 horas por dia, 7 dias por semana, 4 semanas por mês, doze meses por ano!!!

  “Mero detalhezinho” à parte - e aqui a difícil chave do sucesso está abrindo as portas e entrando - é que, vai custar alguns trocados(?) para todos que utilizarem o nosso (?) território, claro, acabando (???) com frequentes negociações com uma espécie de “empreendedores individuais” que ao longo dos anos foram se engalfinhando nessa e em várias outras alternativas não formais que encontram para sobreviverem em um país que já chega ao universo de 14 milhões de desempregados (por faltar-lhes “qualificação”, óbvio, pois trabalho tem, conforme apregoam os arautos e ecoam os incautos da globalização).

  Enfim, como os artifícios da artificialidade estão tão inteligentes que sobrepujam a própria racionalidade humana, dedicando-se, espetacularmente, à comodidade na conformação dos que interessa serem cativados a não perceberem graves efeitos colaterais nesse tipo de transformação, me sinto felizardo por assimilar que até o “flanelinha automático” não é nada humano, apenas mais um a contribuir para a enorme lista dos “ex” alguma coisa, desta vez sobrepujado da própria rua, aumentando, contudo, bastante as perspectivas de nela permanecer, invisívelmente, se é que consigo me fazer entender.

  De qualquer forma, como o mundo caminha rapidamente, também, para veículos bem mais inteligentes do que este pobre motorista, dispensando-me (e a muitos despejando) da condução, acredito que eles e os parquímetros irão se entender melhor do que consegue este incrédulo escritor (em breve, do jeito que a coisa anda, também um ex-critor).