quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Não porventura desventura, mas por ventura aventura



NÃO PORVENTURA DESVENTURA, MAS POR VENTURA AVENTURA 

  Isso se dá no dia 15.11.18, quinta-feira. Estou em Natal acompanhando a filha Laís nos Jogos Escolares da Juventude. Estamos fora de casa desde sábado, dia 10, pois ela, antes, estava em Goiânia, onde participou da terceira e última etapa do Campeonato Brasileiro de Aquathlon. 

  Nesse pouco tempo, contudo, muita coisa pode mudar, como se avolumam os meus compromissos em Vitória, que me induzem a tentar retornar o quanto antes possível. Por volta do meio-dia de hoje se encerra a participação da Laís, cujo retorno, junto à delegação espírito-santense está previsto para a madrugada de sábado. O meu vôo de volta está marcado para amanhã, sexta-feira, dia 16, saindo ao meio-dia até Guarulhos, traslado para o aeroporto de Congonhas e chegada em Vitória às 21:50. 

  Assim, monitorei vôos para fazer alteração. Havia um que saia às 14:30, via Brasília e chegava em Vitória, salvo engano, às 21:50, porém, muito cara a mudança. 

  A outra alternativa, bem mais econômica, seria sair às 18:30, com chegada às 23:00 horas em Guarulhos e daí para Vitória às 5:40 com chegada às 7:20. Ou seja, na melhor das hipóteses, chegaria aos pedaços, mas teria a sexta-feira para afazeres, o que significava muito para mim. 

  E foi dessa forma: embarquei nessa "canoa furada", ou melhor, "vôo furado".... 

  Antes, contudo, consultei bastante sobre maneiras de "sobreviver" da melhor maneira possível a uma noite no aeroporto, mais especificamente no de Guarulhos (encontrei até "manual" a respeito!). As opções que considerei "mais viáveis" eram um hotel com "cubículos", digo, aposentos no próprio interior do aeroporto ou uma aventura de "mochileiro" nas cadeiras ou "vias" do recinto. 

  Como sou otimista, pensei logo no lado bom (e existe?) da (des)aventura(?): afinal, quando é que terei outra "oportunidade" dessas? Uma vida sem histórias é um livro com suas páginas em branco... Vamos preenchê-las, então! 

  Mas não precisava, logo de início, ser tão desalentadora a perspectiva: ao proceder a troca da passagem e fazer o "check in", me recusei a pagar pela "seleção" de assentos, mesmo porque já estava no prazo de 48 (quarenta e oito) horas antes do vôo e entendo que não poderia ser mais cobrado, já que a informação tocante à reserva de assentos é relativa à marcação antes do "check in". 

  De nada adiantaram os meus "protestos" à companhia aérea, embora esteja absolutamente convencido de que o meu entendimento está correto. Não obstante a constatação, no momento, de vários assentos disponíveis, como "punição", o "sorteio aleatório" feito pelo sistema da companhia aérea, me colocou, tanto no primeiro, como no segundo trecho do vôo, na última fileira de assentos, em poltronas não reclináveis, próximo à"cozinha" do avião e com "vista" para o banheiro... 

  Absurda coincidência, não? E em dose dupla!... Comparo tal "sorte" à probabilidade de ganhar na loteria. Acredito, entretanto, que se eu cedesse, alterando os assentos, "coincidentemente", um próximo seria imediatamente "premiado" com os mesmos, e assim sucessivamente. Resolvei, então, deixar para lá... 

  Acontece que o lugar é tão desprestigiado que o casal de idosos, ao meu lado, imediatamente após se acomodar, deu um jeitinho de desaparecer lá para frente, não sei onde, pois não visualizei esses tais lugares. 

  Ao menos o vôo adiantou meia hora e às 22:30 estava em Guarulhos, ainda que, entre descer do avião, embarcar no ônibus e, finalmente, chegar ao saguão, tenha decorrido quase meia hora. 

  Era momento de comer duas de minhas indispensáveis maças, respirar fundo e procurar o melhor lugar para ficar, óbvio, que não me onerasse. Aliás, apenas por curiosidade, fui tentado a conhecer o tal hotel dentro do aeroporto, cujo preço, porém, de uma hora, era o valor de uma diária que paguei em Natal! Tô fora! 

  Entre rumar para a área de embarque a permanecer no saguão, escolhi, inicialmente, a segunda alternativa, já que, se não gostasse, poderia optar mais facilmente pela primeira, do que se procedesse da forma inversa. 

  Sorte, se é que seja essa a palavra, que logo encontrei a pessoa certa, no lugar certo, que me deu uma dica gratuita, porém muito valiosa. Acho até que seja a verdadeira recompensa para quem conseguiu chegar até esta parte da leitura, a título de dica para uma possível situação como a minha no aeroporto de Guarulhos, desde que seja aberto às dificuldades próprias a esse tipo de "aventura", a propósito, "um nada" perante verdadeiras vicissitudes da vida: um simpático rapaz, chamado Nicolas, me mostrou uma escada rolante próxima ao seu "stand" de acessórios para celulares e indicou que as imediações daquela "casa do pão de queijos", no andar superior, era bem tranqüila, pouco freqüentada e, dentre os assentos disponíveis, alguns eram geminados, possibilitando ao ocupante acomodar-se "mais confortavelmente", pois poderia deitar-se. 

  Realmente haviam poucas pessoas e vários assentos. Mas, os "superluxos", com três assentos sem apoio lateral entre eles, estavam ocupados. De qualquer forma, ao invés de um "standard", consegui um "luxo", de dois assentos sem barreira entre eles, mais uma mesinha ao lado, que o transformava em um "superluxo"... 

  Com uma mochila servindo de travesseiro e outra, menor, contendo os pertences de mão, "enroscada" no corpo, ali fiquei, entre celebrados espasmos de sono, até que fui definitivamente "despertado" por um autodenominado professor, que vendia livros de "prevenção ao suicídio", por "qualquer quantia" que a "vítima", digo, pessoa, pudesse contribuir. Não se foi o correto, mas, na circunstância, enquanto alguém estava sendo salvo pelo professor, optei por salvar da morte iminente o meu dinheiro, fingindo que estava dormindo... 

  Depois de toda essa "preparação", a última fileira do avião não mais incomodava nem um pouco, muito pelo contrário: a saudade de casa, o vôo rápido, a possibilidade de realizar um monte de coisas ainda naquele dia, me confirmaram a certeza de que fiz a melhor escolha, que, sinceramente, não desejo fazer de novo, mas farei tantas vezes quanto se mostrarem como melhor (e bem mais barata hehe) opção, com a inigualável vantagem de ter preenchido algumas páginas da minha história de uma forma que considero mais adequada do que se a tivesse deixado passar em branco. Afinal, as nuvens brancas que ora vejo lá fora, facilmente são vistas apenas como nuvens brancas. Entretanto, um pouco de esforço já torna possível, talvez, enxergar brancas nuvens...