domingo, 24 de maio de 2015

Sem inspiração

S EM INSPIRAÇÃO
  

   Nunca me imaginei em uma situação dessas: completamente sem inspiração para escrever nada! 

   Aliás, costumo dizer que a inspiração é apenas uma simples e imperdível passageira dos seus efeitos. 

  É por isso que estou sempre a postos! No momento, acordando no hotel em B.H., no horário biologicamente assimilado pelo meu subconsciente, bem cedinho, porém, sem ter trazido o tênis para correr e longe da rotina de afazeres de casa, conforme, querendo ou não, ela me impõe. 

  Mas, ao lado da cabeceira da cama, não falta a já tradicional “papeneta”, que nasceu do casamento do papel com a caneta, tão amigos e tão próximos que, no mundo do Deus só deles, unidos, se transformaram em uma só “carneta”

  O meu papel (viva o trocadilho!), neste momento, acredito, seja velar pela manutenção dessa união, dando uma força nesta situação difícil para eles e para mim, aproximando-os, com carinho, cupido que fui e me comprometo a continuar a ser, para sempre, dessa relação. 

  Afinal e a propósito, somos tão íntimos que a reciprocidade é espontânea, daí eu nunca deixar de ganhar quando velo pelo casal, sua plena realização. 

  Enfim, simplesmente cuidando do dia deles, sentindo-os aquecidos, juntos e seguros, mesmo sem inspiração, recebo grande dose de energia para, agora, melhor cuidar do meu.


sexta-feira, 8 de maio de 2015

Avenida Banco


            A VENIDA BANCO
 
 
   Logo que cheguei à Avenida Banco, encontrei um grande engarrafamento, já que para iniciar o trânsito no local, era necessário minucioso estudo dos equipamentos que cada um transportava.
 
   O sinal vermelho era uma constante e, então, quando acendia, obrigava averiguação mais detalhada, por vezes até mesmo dos acessórios indispensáveis ao funcionamento do veículo.
  
   Lembro-me que era o décimo da fila e pude observar um deles, com algo metálico à frente dos faróis cansados, para melhorar a visibilidade, mas que, ainda assim, teve solicitação de retirada, considerando que a luz vermelha teimava em não dar lugar à verde, mesmo o veículo despojado de quase todos os objetos que o compunham.
  
   Sem criatividade para outras averiguações e diante de olhares atentos e ansiosos dos demais, fitaram-se por intermináveis segundos o responsável pelo trânsito e o veículo dos faróis, até que esse adentrou na Avenida Banco, sendo seguido pelo olhar confuso e desconfiado do autorizador, sem muita convicção de seu ato.
 
   E essa era a rotina, variando o tempo de espera e os equipamentos objeto da detida observação do sinaleiro.  

   Um pouco à minha frente, a encrenca surgiu com um veículo ainda mais desnudado, o que jamais se mostraria suficiente, uma vez que fora obrigado a colocar uma peça metálica no interior do motor, a fim de prolongar a sua existência. 

    Pelo absurdo da abertura cirúrgica do motor apenas para avistar o equipamento, e diante do pouco caso à trágica consagração da violação do alheio como alternativa, não seria de estranhar que o mundo moderno apresentasse a solução através de mais uma milagrosa parafernália que visualizasse não só o interior do motor, mais até a sua própria alma.  

   Contudo, no caso presente, nada convencia o guardião do local, que tinha que fazer valer a sua autoridade. Afinal, até o momento ainda não estava convencido de ter optado pelo melhor caminho ao deixar o veículo dos faróis cansados entrar.
 
   Diante do impasse e a buzinagem que começou a se instalar, o automóvel deu meia-volta e foi procurar uma avenida menos tumultuada ou, talvez, um outro tipo de material para o motor do seu veículo.
 
   Senti um friozinho na barriga! Depois daquele fusca turbinado à minha frente, objeto de um demorado e alegre olhar do sinaleiro, era o meu momento.

  Aquele seu olhar feliz desaparecera rapidamente, dando lugar a um semblante interrogativo. Tremi! É certo que o giro do motor do veículo estava um pouco alterado naquele momento, mas ele não tinha sofrido qualquer mudança de suas características originais, que pudessem causar dificuldade para esse tipo de situação; os faróis tinham um acessório especial que possibilitava melhor visibilidade, mas foi comprado em uma loja que garantiu que o material não era empecilho para adentrar na Avenida Banco. Outros equipamentos que poderiam emperrar a entrada sempre são deixados na garagem antes de enfrentar o início daquela via. O que poderia ser aquela luz vermelha, então?

   Não sei e nem fui informado. Após um demorado e desconfiado olhar, percebi que um botão foi apertado e pude entrar, com uma grande incógnita, é claro! Como utilizo o mínimo de acessórios possíveis para entrar na Avenida Banco, porque demorei tanto?

   Se era engarrafamento fora, dentro da Avenida não tinha muita diferença. Haviam setas indicando um caminho a seguir. Eram curvas e curvas, dentro de faixas, até chegar ao destino, lentamente, proibida a ultrapassagem.
 
   Nas conversas que se sucediam, percebeu-se uma insatisfação coletiva tão grande, que levou à conclusão de que o local é bastante propício para diminuir a vida útil do motor.

   E logo nos lembramos das várias avenidas que percorremos ao longo de nossas vidas e não temos dúvidas de que precisamos sempre estar refletindo sobre formas de melhor pavimentá-las.