domingo, 23 de outubro de 2016

A porta do sonho de Débora


A porta do sonho de DÉBORA*


Era uma vez uma garotinha que se chamava Débora e morava num lugarzinho pequeno e tinha um grande sonho. Ela sonhava em ser médica. Todos daquele lugar sabiam que seria muito difícil para ela realizar esse sonho, mas mesmo assim disseram a ela o que deveria fazer.

Ela deveria trilhar um longo caminho até chegar diante de uma enorme porta. Se conseguisse passar por essa porta o seu sonho se realizaria.

Débora não pensou duas vezes e sua família também. Todos resolveram acompanhá-la por esse longo caminho.

No início do caminho, todos estavam muito animados; riam, contavam historias, paravam para descansar...

Com o passar dos dias, o caminho foi ficando difícil, árido, sem graça, empoeirado e cansativo, e nada de Débora e sua família avistarem a porta.

Até pensaram em voltar, mas já haviam caminhado por muito tempo, tanto que nem se deram conta. E quanto mais caminhavam, mais o caminho ia se tornando difícil, cheio de pedras, espinhoso. O papai e mamãe de Débora seguravam em sua mão o tempo todo e sofriam quietinhos com medo de não encontrarem a tal porta dos sonhos. Rezaram, cantaram, choravam, mas estavam certos que era esse o desejo que Débora tinha no coração.

Certa manhã, logo ao despertar para retomar o caminho, os pais de Débora ficaram surpresos com os seus gritos:                                                                                                                                             
Olhem, olhem, lá está à porta dos sonhos! Vamos papai, vamos mamãe, ela existe mesmo!

E Débora toda aflita saiu às pressas, andando sobre as pedras, segurando seu papai e sua mamãe, até chegar diante de uma enorme porta. Tão grande tão grande que não alcançava a fechadura.

E Débora começou a bater na porta. Batia, batia, batia, seus pais a ajudavam e nada! A porta não se abria. As horas foram passando... passando... Débora não parava de bater na porta, até que todos, ali adormeceram.

Quando os pais de Débora acordaram assustados perceberam que ela já estava de pé, batendo na porta entristecida e decepcionada. Os pais de Débora, vendo-a assim, sugeriram que procurassem outra porta ou quem sabe uma janela. Débora notou que próximo à sua porta existiam muitas janelas e resolveu ouvir o papai e a mamãe, porém pendurou um recado na sua porta; “Volto logo!” Conseguiu abrir várias janelas, até se encantou por algumas, mas todo dia Débora voltava e tornava a bater na porta do seu sonho. Todos os dias!!!

 
O tempo foi passando e Débora se ocupando com tudo que as outras janelas lhe proporcionavam e parecia que até havia esquecido da sua “grande porta”. Que nada, ela comprou até uma luneta para espiar sua porta de longe!

Depois de muito tempo, quando todos achavam que Débora tinha desistido do seu sonho, se conformado com outras janelas, seus pais ouviram um forte, forte, mais forte grito vindo de lá mesmo, de onde você está pensando, da grande porta do sonho de Débora.

 
-Abriu, abriu, abriu ! A minha porta se abriu. Papai, mamãe, eu consegui, eu consegui!

 
Todos, todos, todos correram para ver o que muitos já haviam desistido de esperar.
 
Não Débora, ela jamais desistiu!

 
* Escrito pela madrinha CLAUDIA, minha esposa, para nossa afilhada  
                          

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Minha cova, minha morte

   
MINHA COVA, MINHA MORTE! 

  Nasci em uma época em que os cemitérios, assim como várias necessidades essenciais, eram quase que exclusivamente públicos, razão pela qual não havia tanta preocupação assim aonde iriam ser enterrados os mortos. 

  Curioso que apesar disso, também era bem menos comum o tipo de “vida pasmacenta”, digamos assim, esse fenômeno da modernidade em que muitas preocupações que flagrantemente nos dizem respeito, são deixadas por conta dos outros, dessa forma não contribuindo sequer para o próprio sustento, quanto mais se precavendo, por exemplo, como é que serão suportadas - sabe-se lá por quem – as despesas do próprio funeral.

  A verdade é que, atualmente, apesar da grandeza do mundo, diz-se, os espaços estão escassos até para os vivos, quanto mais para os mortos... 

  Então, quando se vai a um cemitério e se vê aqueles jazigos enormes – existem ainda muitos assim - impossível não pensar em uma “reforma mortuária”, não é mesmo? Como é que pode “alguém” ocupar um espaço tão grande enquanto vários outros estão por aí “penando”, sem ter sequer um “dormitoriozinhozinho” para “descansar em paz”? 

  Será que não existe nenhuma alma bendita que seja capaz de editar um decreto “proibindo de morrer” por um bom tempo? Quem sabe, então, alguém um pouco mais engenhoso, ao menos “proibindo ‘determinantemente’ de matar”, o que, em nosso país, certamente, já desafogaria bastante a demanda nos cemitérios?... 

  De qualquer forma, caso você não tenha conhecimento, a preocupação governamental é enorme com relação a esse assunto. E como a iniciativa privada está aí para contribuir e também tentar se virar, principalmente em momentos de crise como o de agora, tomei conhecimento que está no “forno”, um programa que tem tudo para aquecer a economia e auxiliar bastante a resolver o problema.

  Para providenciar a sua “estada definitiva”, cada cidadão pré-morto que se interessar receberá um “bônus cadavérico” (não confundir com o “auxílio funeral”) de R$ 10.000,00 (dez mil reais), dinheiro esse que será repassado diretamente às empresas do ramo, inclusive várias novas que certamente surgirão, proporcionando incremento de “empregos diretos e indiretos”. Aleluia! 

  O mercado de terrenos também restará mais aquecido, com a procura de espaços para ampliar a oferta, sem contar os financiamentos, em longas e “suaves” prestações, para os beneficiários saldarem o restante da dívida para com a sua morte. 

  Tudo bem que os terrenos irão subir bastante; mais uma despesa será significativamente majorada para a população, em geral; para otimizar espaços e atender às novas configurações da “mortandade moderna”, passarão a serem enterrados em pé etc. Porém, o que significa isso diante da grandeza desse programa, capaz de ressuscitar qualquer agente político que se proponha a lançá-lo, efusivamente, óbvio, cercado de recursos financeiros para a necessária “publicidade” do saudável e fenomenal: “MINHA COVA, MINHA MORTE!”?

  Quem não morrer, verá!