sábado, 12 de agosto de 2017

Esfinge Contemporânea



ESFINGE CONTEMPORÂNEA 

  Ninguém sabe quem está na direção e nem para onde estamos indo, porém, vamos incumbindo de nos devorarmos uns aos outros antes que consigamos decifrar nossa esfomeada esfinge.

  Como a globalização rompeu limites das fronteiras, tornando o mundo cada vez mais interdependente, a esfinge tem dado pistas de que não resolveremos o quebra-cabeça descartando peças, mas encontrando maneira correta de encaixá-las, embora, ardilosamente, firme o descarte de grande parte delas a fim de que se possa, simplesmente, continuar seguindo.

  Quanto maior o número de descartados, que permanecem à espreita, na lenta e grande fila, em condição de excedência (afora a prioridade absoluta dos robôs, na condição de excelência), mais combustível haverá para manutenção do ciclo, oportunizando a disseminação inimputável dos pilares em que se assenta esse ultramoderno assédio global.

  Nesse ambiente, as regras que verdadeiramente valem são as que mais contribuem para a austeridade, rompendo com paradigma de direitos criados e consolidados em épocas cujas esfinges não eram tão concentradas e obcecadas em torno de um pensamento único, tornando-a, atualmente, extremamente poderosa no que tange à imposição de suas normas.

  Desta forma, sem respeitar nação, pátria ou bandeira, utilizando-se do amplo e diversificado laboratório global de experiências, elas vão forçando à aproximação de parâmetro de padronização baseado, evidentemente, em exemplos externos em que o trabalhador mais se aproxime de mera peça para lubrificação da rígida e inflexível engrenagem econômica.

  O mais impressionante é a avassaladora forma como as históricas regras que se relacionam ao trabalhador passaram, ultimamente, a ser disseminadas e recebidas como sinônimo de insuportável atraso, grave empecilho para o desenvolvimento, submetendo-o a ambiente de total insegurança, instabilizando-o completamente ao sabor das crises.

  Aliás, cuja rotina, obviamente, ganha enorme apoio com a propagação e assimilação de que o crescimento advirá de uma seletividade quase desumana, alimentada pelo consequente escanteio de enorme massa humana, ante a impossibilidade de nos recriarmos, diariamente, como os glorificados artefatos progressivamente fabricados para uma competitividade cada vez mais artificial e um ambiente mais selvagemente real. 

  Logo, em contexto global próprio ao reino da instabilidade, com as economias nacionais refutando, sempre mais, mínimos resquícios de autonomia, uma possível diminuição pontual do número de desempregados, após a chamada “reforma trabalhista”, além de não proporcionar mínima garantia quanto a novas flexibilizações de sólidas conquistas, também não encobre a desfaçatez como a modernidade vem aniquilando postos de trabalho.

  Como fato, o impressionante número de catorze milhões de desempregados, no país, dois milhões, aliás, em apenas um ano e já na vigência de igualmente inovadores “programa de proteção ao emprego” e “lei da terceirização”.

  Com o significativo detalhe de que a decidida maneira como a “economia disruptiva” se lança contra normas relativas a direitos e garantias da classe trabalhadora, ganhou grande incentivo a seguir sua inflexível trajetória, já que conseguiu chegar ao ponto de alterar, em uma só oportunidade, várias partes da outrora “vaca sagrada”, como muitos críticos se referiam à CLT, consolidando, desta maneira, a transição para a era do “robô sagrado”, em um mundo evoluidamente desvairado


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