quinta-feira, 2 de março de 2017

Qual a nota do sisu?


QUAL A NOTA DO SISU? 

  Prestei vestibular há vários anos, porém, nunca deixei de acompanhar com muita atenção o clima acalorado que cerca a divulgação dos resultados, geralmente nos verões, embora os seus importantes reflexos se façam presentes pelas demais primaveras afora.

  Como os jornais são ótimo termômetro, a ponto de lançarem, por vezes, edições extras no decorrer do dia, apenas com o resultado, neste ano, uma vez ocorrida a divulgação, sentindo clima ligeiramente frio para a época, na manhã seguinte constatei o nome dos aprovados apenas em ordem alfabética, sem as costumeiras pontuação e classificação de cada qual, divisão em 1º ou 2º semestres, ampla concorrência ou cotas etc.

  Ora, apesar da histórica tradição quanto a isso, para que quero saber, né? Afinal, importa ao candidato. E ele, mediante senha e número, tem como chegar a tal... O Brasil mudou! E a Ufes, enfim, também se tornou uma universidade “sisuda”. 

  Mudou tudo! Na transição para o atual modelo, de um extremo em que a prova do ENEM, independentemente da pontuação de cada qual, via de regra, servia apenas para classificar ou não para a segunda etapa, com matérias mais afetas à área escolhida, rumou-se para outro em que o primeiro passo decide a situação. Nem tanto, nem tão pouco!

  Agora, geralmente no recôndito de algum lugar, o candidato, sem saber a dos demais, acessa à sua nota e, a partir daí, dá-se início a uma verdadeira odisseia, aonde o mesmo, dentre milhões, vai se movimentando de acordo com a escolha dos outros, com aqueles que se encontram no topo da pirâmide sendo os únicos que gozam de garantias quanto ao curso e ao lugar em que desejam estudar.

  Desta forma, como a escolha do curso é posterior à obtenção da nota, aquela história de “vocação”, disseminada até esse momento da existência, em regra, do jovem estudante, para enorme contingente, vai, agora, mudando diariamente, já que os “excedentes” podem se transformar em “insurgentes”, optando por outro curso, especialmente a partir dos mais disputados, não necessariamente objetivando frequentá-lo, falseando toda a cadeia decorrente. 

  Além de conduzir a um irreal aumento da pontuação dos cursos, acaba se assemelhando a um jogo de difícil estratégia, já que nunca se sabe, efetivamente, quantos levarão a matrícula a efeito, a fim de analisar se vale mais a pena optar por “este curso na mão” ou por “aquele voando”, por exemplo, além da instabilidade geral que ocasiona e protela a “dança das matrículas”.

  Enfim, no aspecto geral, parece estranho que “um Estado que não é Nação” - ao menos para o Legião Urbana - estabeleça uma concorrência de âmbito nacional entre os vestibulandos, que, na essência, desconsidere, infelizmente, desigualdades educacionais existentes entre as diversas Unidades da Federação deste imenso Brasil, a ponto, aliás, da Constituição Federal estabelecer como um dos Objetivos Fundamentais da nossa República (artigo 3º, inciso III), justamente, a redução das desigualdades regionais.

  Entra para o contexto de mudanças que passam a impressão de mais uma lição visando assimilar regras da globalização: retira de âmbitos menores sua capacidade de decisão, faz crer que a evolução é irreversível em unificar a competição, quanto maior menos pior para poucos, esta é a situação! 

  Repare à sua volta e reflita, pois buscar entender é o verdadeiro x da questão!



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