sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Governo e Oposição



                    GOVERNOOPOSIÇÃO


 Quando éramos somente eu e a esposa, como não havia regras nítidas sobre quem assumiria a presidência (não chegamos a cogitar quanto ao parlamentarismo) após a instalação de nossa República, fui me acomodando devagarinho na cadeira governamental, oferecendo-lhe, em contrapartida, o Ministério da Fazenda, o que gerou a nossa primeira crise político-conjugal, pois, espertamente, não deixei evidente que se tratava do importante órgão que administra o dinheiro, razão pela qual, já que também não éramos possuidores de terras, acabou entendendo que eu poderia estar me referindo a outro tipo de renda, associada à quase extinta máquina de costura.

 Ora, toda República passa por contratempos. Logo, essa e outras crises que sobrevieram ao longo dos anos não impediram que a União se fortalecesse, a ponto da população de nosso Território ter se multiplicado algumas vezes.

 O caso é que, agora, ainda não muito certos de quem era Governo e quem se situava na Oposição, resolvemos, democraticamente, que era momento de proceder a eleição para estabelecer quem ocuparia o cargo mais elevado da nossa República, embora descentralizando algumas atividades para o primeiro e o segundo escalões.

 Quem ganhasse entre eu e a esposa seria formal e finalmente nomeado presidente (ou presidenta, como querem ensinar alguns manuais modernos, sob meus protestos!). O outro (ou a outra, agora sou eu que faço questão!), escolheria o Ministério que quisesse (ao menos estava superada a situação do Ministério da Fazenda!). Os filhos ocupariam o segundo escalão, esperando eu que não houvesse nenhuma Intervenção em nossa República por causa do nepotismo, já que acreditava que isso decorria da autonomia ínsita ao nosso espaço, embora cada vez menos soberano perante as regras emanadas da Organização das Nações (Des)Unidas. 

 Fizemos acirrada campanha! Espero não incidir em nenhum crime eleitoral ao confessar, neste momento, que distribuí uns docinhos para os eleitores (soube, depois, que a candidata também fez isso, desigualando a campanha, já que os seus são incomparavelmente melhores do que os meus).

 Ficou decidido que eu e ela não votaríamos, para evitar que um tentasse convencer o outro nas inevitáveis reuniões republicanas do dia a dia. O resultado da eleição: três votos para mim, três votos para ela! Empate!

 Como não havia previsão de critérios para desempate, cheguei a propor que o candidato “mais velho” (ops: “com mais idade”) fosse declarado vencedor, realização de segundo turno, decisão no “par ou ímpar” ou (quase) qualquer outra forma que a candidata entendesse adequada. Que nada! Irredutível, para ela a eleição terminava ali, empatada mesmo e dessa forma continuaria.

  Refletindo um pouco, achei que ela estava certa, pois com nós dois “dividindo” o comando já não se mostra tarefa simples governar, se um fizer oposição ferrenha ao outro, sem deixar de reconhecer as virtudes, focando somente nos defeitos, a tendência é que a nossa República acabe cada vez mais enfraquecida, com manifestações mais fortes, justas e frequentes por parte dos administrados, acredito.

  Embora sejamos de partidos acirradamente diferentes, acreditamos que o momento que vivemos é extremamente sério. Eu tenho defeitos, ela também. Mas são as nossas virtudes, somadas, que podem nos levar a algum lugar. 

 Formulamos, então, uma pauta propositiva comum, que tem gerado resultado favorável em nossas vidas e, decorrentemente, diminuído um pouco das insurreições, razão pela qual redigimos, em conjunto, aquela que foi designada como sendo a “Carta da República dos Gaspar” (fui vencido ao propor “Carta da República dos Brasilvas”, mas tudo bem, pela causa!) e chegamos a apresentar essa nossa experiência à grande República ora, ora, administrada pelo PSDB, ora, ora, ora e ora administrada pelo PT, para, quem sabe, sugerir algo menos distante do que simplesmente Governo e Oposição...


Nenhum comentário:

Postar um comentário