sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

É tudo armação!



               É TUDO ARMAÇÃO!


   Dentre tantos, alguns até mais emblemáticos do que o ocorrido há poucos dias, de forma mais presente em minha vida, foi o que acabou por acionar o gatilho de minha memória, a atingi-lo neste exato momento, para minha incontida satisfação, esperando que você não me leve ao banco dos réus por isso, já que a intenção não é lhe produzir qualquer dano, a propósito, muito pelo contrário. 

   E, de qualquer forma, caso sinta algum desconforto, sugiro que estanque imediatamente a ferida, afastando-se da zona de perigo, que avança na medida em que seguem as linhas por mim descarregadas, torcendo, contudo, que a sua curiosidade seja suficiente para levá-lo até ao fim deste belicoso escrito, já que não me aterei ao caso que me levou a ele, pois igual e muito maiores os veículos de comunicação retratam em grande escala, diariamente.  

   Tamanha a banalização que o extraordinário já parece comum, o que resisto em aceitar e que ajuda a diminuir um pouco do desconforto com a surreal situação em que vivemos.

   Há quase vinte anos, mais precisamente, aos 07 de março de 1996, através de artigo veiculado no jornal “A Tribuna”, sob o título “armas de fogo”, ao menos acreditando agir em legítima defesa, iniciei o meu tiroteio público visando atingir esse cativante e sorrateiro artefato, pois o avistava caminhando cada vez mais seguro e tranquilo, em más mãos, quando, infortunadamente, ele próprio não transformava boas em vilãs, aumentando o drama de muitas situações em que todos os envolvidos, seguramente, após elas, se pudessem, abririam mão...

   Afirmo que foram muitos artigos, todos devidamente fundamentados, os quais ora me abstenho de reproduzir, já que não tenho pretensão de duelar com as respeitáveis opiniões distintas e acaloradas que o tema costuma ensejar.

   Acredito que o lugar comum, porém, na busca de possíveis convergências para aumentar o poder de fogo de ambos, preferencialmente sem o disparo de projéteis e, mais ainda, diminuindo-se a necessidade de portar o instrumento, é aceitar que a regulação do assunto incumbe ao Estado, sendo inaceitável não a forma como o mesmo é tratado pela legislação, mas sim, como tem se efetivado a aplicação da norma. 

   Tanto aqueles que acham que o porte de armas de fogo deve ser cada vez mais restrito, como os que avalizam a ideia de que deve ser ampliado, no fundo, concordam, que o fogo cruzado que enfrentam, seja armados ou desarmados, se deve ao fato de que o Estado, o regulador do tema, tem sido um péssimo gestor de suas leis - e olha que nesse interregno de tempo já foram muitas e variadas. 

   Quando isso ocorre, independentemente de qual seja a vontade do cidadão, quem, no fundo, passa a atuar de forma mais efetiva é o mercado, não sendo crível que alguém ainda não tenha percebido o significativo montante que gira em torno da indústria da insegurança. A propósito, tenho certeza de que você irá se assustar ao procurar se inteirar mais detalhadamente quanto a valores...

   E a arma de fogo, cada vez mais moderna, arrojada, mortífera e fabricada em larga escala, inclusive em nosso território brasileiro, é elemento extremamente importante à movimentação desse ciclo, para não dizer de outros, como tem demonstrado o Estado Islâmico através de uns poucos dos estimados mais de 100 milhões de fuzis de assalto Kalashnikov produzidos a partir de 1947. 

   Em meio a tantas engenhocas incorporadas ao cotidiano do ser humano (alarmes, câmeras, vidros blindados, portas eletrônicas, detectores de metais, scanner corporal, cerca elétrica etc), não resisto à tentação de encerrar com a lembrança de um outro artigo, veiculado no mesmo Jornal “A Tribuna”, aos 11 de novembro dos idos igualmente doídos de 2000, quando salientei o temor de que em razão do encadeamento de circunstâncias como as enunciadas acima, chegará o dia (ao que parece, cada vez mais próximo, infelizmente), em que ainda aceitaremos que a armadura é o melhor e verdadeiro remédio para balas perdidas...


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